A infantil guerra de Neymar contra a Conmebol. Na véspera da final

Principal jogador do Brasil ironiza a Conmebol e questiona juiz. Time tem fama na América do Sul de ser ajudado pela arbitragem. Postura perigosa pode pesar na final. Tite e CBF omissos

São Paulo, Brasil

Jamais houve uma cena tão deprimente em finais da Copa América.

No dia 7 de julho de 2019, no Maracanã, Gabriel Jesus ficou histérico ao tomar o segundo cartão amarelo, depois de uma disputa pelo alto com o peruano Zambrano. O chileno Roberto Tobar não tibubeou e o expulsou.

O brasileiro peitou o árbitro, saiu xingando, deu um soco na cabine do VAR. Descontrolado, empurrou um totem da Conmebol. E, olhando para a torcida, fez o sinal característico com a mão direita, que significa roubo. Depois chorou na escadaria que dava acesso ao vestiário.

Foi suspenso por dois meses.

Eu estava no Maracanã e lembro da reação dos jornalistas estrangeiros e de membros da Conmebol que estavam à minha frente. Todos ficaram revoltados com a atitude do brasileiro. Roberto Tobar trabalhava de maneira normal, não estava prejudicando seleção alguma.

Para uma entidade que tem a marca da corrupção na testa, com a prisão de três ex-presidentes, em 2015, o que Gabriel Jesus fez foi imperdoável. Por ser um jogador importante, da seleção brasileira, atuando pelo Manchester City, a cena foi reproduzida no mundo todo. Ele estava garantindo que o árbitro da final da Copa América, principal competição da Conmebol, era, na sua visão, um ladrão.

Causou prejuízo enorme à imagem da Conmebol.

Os bastidores recomendavam uma atitude especial com Gabriel Jesus nesta Copa América, disputada apenas dois anos depois da sua deprimente atitude, sem prova alguma. Ele era um jogador visado.

Tivessem os dirigentes da CBF e a comissão técnica da seleção brasileira mais vivência, teriam trabalhado psicologicamente o jogador para evitar se expor em lances desnecessários. Não fizeram. E o atacante de 24 anos também não é mais um menino.

Mesmo assim deixou o pé na cabeça do chileno Mena. O árbitro argentino Patrício Loustau agiu corretamente ao expulsar o brasileiro. 

Pronto, Gabriel Jesus, de forma ingênua, inaceitável, se ofereceu ao julgamento da entidade que desmoralizou na final da Copa América de 2019. 

Foi punido por duas partidas e está fora da decisão do torneio. Não contente, o jogador ainda decidiu ironizar publicamente seu julgamento. 

“Dois jogos e sem recurso? Parabéns, Conmebol. Acho que vocês não analisaram o lance direito”, colocou no seu Instagram. Provocação barata, tola. Que pode ter consequências no futuro, nas Eliminatórias.

É inacreditável a omissão da direção da CBF, do coordenador Juninho Paulista. E de Tite.

Porque ninguém avisou para que os jogadores brasileiros se contivessem. Com uma final de Copa América pela frente, Neymar, o pricipal atleta da seleção, decidiu também ironizar a Conmebol.

“Muito triste estar nas mãos de pessoas que tomam essas decisões.”

“Bela analisada que deram no lance, hein?”

“Estão de parabéns.”

Neymar tem mais de 240 milhões de seguidores. Ele expôs a Conmebol para o mundo. 

Nos veículos esportivos da América do Sul, principalmente na Argentina, há sério questionamento sobre o Brasil ser ‘ajudado’ pela Conmebol. 

O VAR ganhou o singelo apelido de ‘VARsil’, juntando a letras que representam o árbitro de vídeo com a última sílaba de Brasil.

E essa pressão fora de campo tem peso.

A Conmebol escalou para a final da Copa América de sábado, o juiz uruguaio Esteban Ostojich. Ele é conhecido por ser muito rígido, não afeito a aceitar simulações, provocações. Chegou ao mais alto nível em 2016.

Há cinco anos é ‘árbitro Fifa’.

Não é de se submeter a provocações dos jogadores, nem chiliques, reclamações insistentes, simulações. Alguém precisa avisar a Neymar.

Há o lado político da decisão.

A Copa América está sendo disputada quase de forma clandestina. A Eurocopa rouba toda a atenção mundial.

Se o Brasil vencer no Maracanã, não haverá repercussão alguma. Será ‘normal’, venceu um torneio em casa.

Já se a Argentina conquistar o título, será a primeira conquista de Messi com a seleção de seu país, de forma profissional. E no templo do futebol mundial, no coração do maior rival, o Maracanã, no Rio de Janeiro.

Desde 1993, os argentinos não têm qualquer conquista.

Seria notícia sensacional.

Para a Conmebol seria muito melhor a Argentina campeã.

É necessário não ser ingênuo no futebol.

Se Gabriel Jesus e Neymar têm tendência a tomarem atitudes infantis, caberia a Tite e a Juninho Paulista impedirem.

Mas a omissão é grande em relação principalmente a Neymar, que segue agindo como quer.

Ou ele, depois de o Brasil vencer o Peru, na semifinal, em vez de comemorar, como fez, de maneira eufórica, Messi, preferiu atacar o árbitro. Não por acaso, Roberto Tobar, o mesmo chileno que havia expulsado Gabriel Jesus.

“Todo mundo muito nervoso. Mas o árbitro não pode fazer o que ele fez. É uma falta de respeito a forma como ele fala, como ele olha, o que ele fala. Desde o primeiro minuto, foi muito arrogante”, detonou.

“As duas equipes reclamaram, não pela forma como ele apitou. Mas a arrogância dele, não pode ser árbitro de uma semifinal de Copa América.”

Sim, Neymar decretou que um juiz que trabalhou na decisão da Copa América de 2019, não pode apitar qualquer semifinal da Copa América. 

Os árbitros são corporativos.

Ofendeu um, ofendeu todos.

A CBF, a seleção, o Brasil são muito amadores.

Depois, não adianta reclamar, protestar.

Chorar, empurrar totem da Conmebol…

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