Cor e tecnologia na seleção de sementes: precisão digital impulsiona a produção de mudas de oiti

Pesquisadores da Esalq-USP e IFPI desenvolveram um método que combina análise de cor e inteligência artificial para identificar os melhores frutos de oiti, garantindo mudas mais vigorosas e otimizando projetos de reflorestamento e paisagismo.

A natureza oferece pistas visuais poderosas sobre o estado de maturação dos frutos, mas nem sempre o olho humano é capaz de captá-las com precisão. Esse é o caso do oiti (Licania tomentosa), árvore nativa bastante comum em áreas urbanas e em projetos de reflorestamento no Brasil.

Uma pesquisa recente liderada pela Universidade de São Paulo (Esalq-USP) e pelo Instituto Federal do Piauí (IFPI) trouxe uma solução promissora: o uso de análise de cores combinada com algoritmos de aprendizado de máquina para otimizar a escolha dos frutos usados na produção de mudas.

Degradadas, urbanismo
O oiti (Licania tomentosa) é uma árvore nativa amplamente utilizada no paisagismo urbano e na restauração de áreas degradadas no Brasil.

A proposta inovadora alia ciência da computação, agricultura e conservação ambiental para resolver um problema prático: como garantir que as sementes escolhidas para cultivo gerem mudas vigorosas e de alta qualidade? A resposta encontrada pelos pesquisadores foi observar com precisão a coloração da casca dos frutos, um indicador direto do estágio de maturação, e usar essas informações para prever o desempenho das futuras mudas, tudo isso sem destruir o fruto e com baixo custo.

A importância da cor: o que o fruto nos revela

Durante o amadurecimento do oiti, a coloração do fruto muda visivelmente, passando do verde para tons amarelados e, depois, alaranjados. Esses sinais, muitas vezes sutis, são importantes porque indicam transformações internas, como o acúmulo de nutrientes e a formação completa da semente.

Cor, frutos, oiti
A mudança de cor nos frutos do oiti, do verde ao amarelo-avermelhado, sinaliza o amadurecimento e o preparo da semente para germinar com vigor.

No estudo, os pesquisadores classificaram os frutos em quatro estágios com base na cor da casca: do verde esverdeado ao amarelo-avermelhado. Utilizando uma câmera digital e o programa ImageJ, eles analisaram a intensidade das cores vermelho, verde e azul (o chamado sistema RGB). Descobriram que a tonalidade vermelha era o principal indicativo do grau de maturação, sendo os frutos amarelo-avermelhados os que produziam as mudas mais fortes.

Tecnologia aliada ao campo: como funciona o processo

A grande inovação do estudo está no uso de algoritmos de aprendizado de máquina para interpretar os dados colorimétricos e classificar os frutos automaticamente. A técnica utilizada, chamada Análise Discriminante Linear (LDA), consegue distinguir padrões que o olho humano não percebe.

Esses algoritmos foram treinados com dados de cor e forma dos frutos e, com 90% de precisão, conseguiram identificar o estágio de maturação ideal. Essa automatização traz muitas vantagens:

  • Redução de erros na seleção dos frutos
  • Menor desperdício de sementes inviáveis
  • Produção de mudas mais vigorosas e padronizadas
  • Menor custo de replantio e tempo de cultivo
  • Possibilidade futura de criar aplicativos móveis para uso direto no campo

A tecnologia, portanto, não substitui o conhecimento do produtor, ela o potencializa com mais precisão e economia.

Impacto para o futuro: da muda ao reflorestamento

Os frutos mais maduros, especialmente os de coloração amarelo-avermelhada, geraram mudas mais saudáveis, com maior biomassa e qualidade. Isso significa que, ao escolher melhor os frutos desde o início, é possível garantir que a planta se desenvolva com mais vigor, resistindo melhor ao estresse no campo e exigindo menos intervenções.

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A pesquisa abre portas para novos estudos em outras espécies e para a criação de ferramentas digitais acessíveis aos pequenos produtores. É um exemplo claro de como a ciência aplicada pode transformar práticas tradicionais, tornando-as mais sustentáveis e precisas, um verdadeiro encontro entre natureza e tecnologia.

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