Massa de ar polar derruba termômetros no Centro-Sul, espalha geada e põe em risco cafezais, trigo, milho e hortaliças; graves perdas podem chegar a 30%, mas técnicas de manejo e seguro climático ajudam a amortecer o impacto.
Uma nova massa de ar polar avança da Patagônia para o Brasil e já faz os termômetros despencarem justamente quando muitas culturas atravessam fases cruciais de desenvolvimento. Desde o final de junho, esta incursão gelada vem provocando mínimas de até –2 °C em áreas do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, espalhando geada até o sul de Minas Gerais e Mato Grosso do Sul.
O fenômeno reacende o debate sobre segurança alimentar e realça a vulnerabilidade da agricultura ao clima extremo.
Além de ameaçar a produtividade, o frio severo encarece os alimentos e testa a resiliência econômica de pequenos e grandes produtores. A Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) já estima perdas de até 30% no milho safrinha e 25% no trigo gaúcho, enquanto hortaliças folhosas e cafezais mais sensíveis podem perder quase tudo. Compreender como a massa de ar polar age sobre cada lavoura é essencial para mitigar danos e planejar a próxima safra.
Como o ar polar “queima” as plantas
Quando o centro de alta pressão polar avança, ele traz ar frio, seco e denso. Nas madrugadas sem nuvens, o solo irradia calor para a atmosfera; se a temperatura próxima à superfície cai a 0°C, o vapor d’água congela sobre folhas e frutos, formando a geada que rompe células vegetais e causa necrose. Esse processo, chamado de congelamento extracelular, danifica tecidos verdes, reduz a fotossíntese e compromete o enchimento de grãos.

Em 2025, a frente fria coincidiu com estágios fenológicos sensíveis: trigo em espigamento, milho em enchimento de grãos e café em pós-florada. Nesses momentos, qualquer lesão reduz drasticamente o potencial produtivo. Além disso, após a passagem da massa polar, o ar continua seco, o que diminui a evapotranspiração diurna e provoca déficit hídrico adicional, combinação que agrava os prejuízos.
Culturas mais vulneráveis
Alguns cultivos sofrem mais do que outros quando o termômetro chega a zero:
- Café arábica: ramos produtivos necrosam a –2°C; a planta precisa de dois a três anos para se recuperar.
- Hortaliças folhosas (alface, rúcula): perdem a viabilidade abaixo de 0°C e exigem replantio completo.
- Milho safrinha: grãos “chocam” antes de encher, reduzindo peso e qualidade.
- Trigo em espigamento: o frio esteriliza espiguetas, derrubando a produtividade.
- Frutíferas subtropicais (uva, maçã): toleram frio moderado, mas geadas fora de época quebram brotações.

Grãos podem diluir riscos escalonando datas de semeadura, mas horticultores têm pouca margem: estufas aquecidas encarecem a produção e nem sempre cabem no orçamento de pequenas propriedades. Já a cana-de-açúcar resiste melhor; em noites frias, chega até a concentrar sacarose, embora cortes antecipados sejam comuns para evitar perdas maiores.
Do prejuízo à adaptação: caminhos para seguir em frente
Embora o gelo traga estragos, cada episódio também impulsiona inovação. Pesquisadores da Embrapa, universidades e cooperativas aprimoram técnicas de manejo adaptativo: coberturas mortas ou plásticas que retêm calor no solo, irrigação por aspersão noturna que libera calor latente durante o congelamento da água e até fogueiras controladas à beira de pomares para criar colchões de ar mais quente. Programas de melhoramento genético, por sua vez, já geram cultivares de trigo e café com tolerância superior ao frio.
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No plano econômico, a massa polar de 2025 reforça a necessidade de seguros indexados ao clima e de fundos de catástrofe capazes de amparar agricultores sem repassar todo o custo ao consumidor. Para o público urbano, isso significa menor volatilidade nos preços da cesta básica; para o produtor, representa fôlego financeiro para investir na próxima safra.
Referência da notícia
Geada acende alerta para perdas na safra de inverno. 27 de junho 2025. CNA Brasil.