Histórias da Gente Pantaneira: A Vida Era Assim Mesmo…

Autor: Leonardo Leite de Barros*

“Japão” é o melhor eletricista da Nhecolândia. Bugre Guató de olhinho puxado, inteligente, fio desencapado vagando de fazenda em fazenda, consertando o improvável.

Uma chuva fina e fria cobria o céu do Pantanal. “Pelé”, caminhoneiro experiente, encostou seu Mercedes barulhento, carregado de mantimentos e de gente.

Gente pantaneira de mudança com seus cachorros e pequenas posses. Vasos de plantas, sacos de roupas, caixa de madeira cheia de panelas velhas e um armário esfarelado. Os sonhos são sempre maiores e melhores.

Procurei em volta, interpelei o “Pelé”: cadê meu eletricista? Ele apontou para carroceria do caminhão. A primeira imagem foi trágica, um farrapo humano molhado brotou entre as lonas e balbuciou umas palavras.

Olhei com reprovação para o velho caminhoneiro. Betinho, pantaneiro experiente, me pegou pela mão e segredou; “fica tranquilo, é ‘Japão’, daqui a pouco ele sara.”

As boas vindas chegaram com a mesa farta, capado gordo frito, arroz e feijão. O almoço barulhento quebrou minha indisfarçável decepção.

“Japão”, com seu andar cambaleante, esconde uma mente brilhante. Trajes rasgados e sujos vestem um homem educado, de fala mansa e sem qualquer interesse pelo mundo.

Tudo mudou com a visão do velho trator, aquele homem quase triste deu lugar a um ser vibrante, cheio de idéias e ações: “daqui a pouco vou fazer a geringonça cuspir fumaça”.

Japão arrumou meu trator velho, as instalações elétricas da casa, placas solares e me deu algumas boas ideias.

No fim do dia, tomou sua pinga e novamente ficou triste. Indiferente ao mundo.

A vida era assim mesmo.

*Pecuarista pantaneiro

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