A força da mulher na política de Mato Grosso do Sul

Mulheres ganham protagonismo no meio político
Reprodução

Apesar de as mulheres constituírem a maioria, tanto na população (51,1%), quanto no eleitorado (52,62%) brasileiro, os filiados aos partidos políticos ainda são predominantemente do gênero masculino, com 8.493.990 homens, o que representa 53,8% do total, e 7.284.431 são mulheres (46,2%), de acordo com informações divulgadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Na maioria do território nacional, a representatividade efetiva das mulheres na política é bastante desigual, sendo que nas eleições gerais de 2022, por exemplo, 9.891 mulheres se candidataram, porém somente 311 delas foram eleitas, correspondendo a apenas 18,2% do total de eleitos.

Porém, em Mato Grosso do Sul, a participação de mulheres na vida política melhorou, com mais mulheres sendo protagonistas, afinal, nas eleições passadas tivemos duas sul-mato-grossenses disputando o cargo de presidente da República, a senadora Soraya Thronicke pelo União Brasil – agora ela está no Podemos – e a atual ministra do Orçamento e Planejamento, Simone Tebet, pelo MDB.

Também tivemos duas mulheres disputando o cargo de governadora do Estado, a ex-deputada federal Rose Modesto (União Brasil) e a advogada Giselle Marques (PT), sem falar nas vitórias de Tereza Cristina (PP) para o Senado Federal, de Camila Jara (PT) para a Câmara dos Deputados e de Mara Caseiro (PSDB), Lia Nogueira (PSDB) e Gleice Jane (PT) para a Assembleia Legislativa.

Outro destaque é a prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes (PP), que tentará à reeleição em 2024 e, no pouco tempo que está à frente do cargo – ela assumiu em abril do ano passado com a renúncia do ex-prefeito Marquinhos Trad (PSD) -, tem agradado à população com uma administração diferenciada ao levar para o Paço Municipal o jeito feminino de gestão, dando uma atenção mais especial para a saúde e também para as questões sociais.

Assim como em várias cidades do interior de Mato Grosso do Sul administradas por mulheres, sendo que muitas também tentarão a reeleição, e as inúmeras vereadoras espalhadas pelos 79 municípios de Mato Grosso do Sul. Para o cientista político Antonio Ueno, esses exemplos mostram a força da mulher na política sul-mato-grossense, que já teve no passado como desbravadoras a ex-senadora Marisa Serrano, a ex-deputada federal Marilu Guimarães e a ex-vereadora e ex-prefeita de Campo Grande Nelly Bacha, que foi a primeira mulher a administrar a Capital.

“Um indicador confiável do grau de amadurecimento das democracias no mundo é a presença das mulheres na política, pois, quanto mais postos o sexo feminino conquista nas cúpulas dos governos, mais igualitário tende a ser aquele país, ou, pelo menos, mais preocupados estão em reduzir as diferenças entre homens e mulheres”, declarou, creditando esse sucesso das mulheres na política do Estado ao modo especial delas em gestão, sem a truculência dos homens.

No entanto, ele alerta que muitos brasileiros ainda não gostam de votar em mulheres. “Qual o motivo para, independentemente de sermos homens ou mulheres, ricos ou pobres, com muita ou pouca educação, moradores das metrópoles ou de povoados do interior, votarmos proporcionalmente menos nas mulheres? É provável que exista uma questão cultural, ligada a preconceito e discriminação”, lamentou Ueno.

O cientista político ressaltou que responsabilidades muito maiores na criação da família e nos afazeres domésticos são barreiras no mercado de trabalho, que, aliado ao preconceito, impedem que as mulheres pratiquem a política e sejam ouvidas da mesma maneira que os homens. “Essa barreira institucional tem origem tanto na legislação eleitoral, quanto nas relações de poder no âmbito dos partidos políticos brasileiros. O alto percentual de candidatas sem voto, em grande discrepância com o que acontece com os homens, é sinal evidente de que os partidos políticos, em seus diretórios municipais, praticam fraude inscrevendo mulheres apenas para atender à exigência legal de ter 30% de suas vagas destinadas para o sexo feminino”, lembrou.

Outra evidência de como as práticas dos partidos não amparam as mulheres está na distribuição do dinheiro para as campanhas eleitorais. “Uma explicação possível para esse fenômeno – além da questão das candidaturas fictícias – está na estrutura de poder das cúpulas dos partidos em seu âmbito local, estadual e nacional. Com diretórios historicamente dominados por homens, fica a cargo deles a distribuição do dinheiro – e as mulheres acabam sendo preteridas, reproduzindo nos partidos as práticas discriminatórias de nosso dia a dia”, criticou.

Ele lembra que, no Brasil, o dinheiro traz voto e, como as mulheres não têm acesso a dinheiro dos partidos, fica mais difícil ainda para elas fazer com que suas ideias sejam ouvidas pelos eleitores. “O resultado disso é menos votos e menos cargos eletivos conquistados. A despeito da desigualdade de gênero que prevalece no Brasil, muitos países têm aprovado reformas corajosas para estimular a competitividade das mulheres nas disputas eleitorais. Eleições com um percentual elevado de cadeiras exclusivas para mulheres, cotas no financiamento público de campanhas e estímulos para os partidos admitirem mais mulheres em sua estrutura decisória são algumas das medidas que vêm sendo adotadas em diversos países para estimular a participação feminina na política”, finalizou.

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