O nome é dos mais sugestivos, embora as saudações estejam alhures dos confins pantaneiros e abracem as lonjuras andinas e transcontinentais das inspirações latinoamericanas.
O nome é de um show protagonizado por pessoas em função do encantamento proposto por um Geraldo Espíndola, outro Marcelo Loureiro e “unoutro” Renato Teixeira, na Praça do Rádio Clube, noite de quinta-feira passada, 25, na celebração dos 123 anos de fundação de Campo Grande.
Fui compartilhar as emoções naquele convescote de ritmos, sons, vozes, rimas e composições desamarradas do frio gesso cartesiano.
Embebi-me do êxtase que a música dá a quem a desposa e busca o gozo nas invisíveis partituras de seus apelos melódicos. Não precisei traduzir a linguagem dos anjos, nem dos homens para extasiar-me. Bastou-me o chamado de metais tinindo no encontro com a esfuziante loucura de cordas, de couros, de sopros e de garganteios.
A arte, impositiva, senhora e vassala dos artistas que as produzem, alonga as horas do tempo e nos faz sentir tão eternos em nossa brevidade. Culpa desses artistas traquinas. Brincam com a idade do tempo. Pregam peças na tristeza, fazem-nas sorrir. E colocam lágrimas – imaginem! – no chão dos corações desertos para que neles floresça a árvore da temperança!
Deu vontade de ir ao palco ou aos camarins para abraçar Geraldo, Marcelo e Renato – e agradecê-los por consagrar-me como ser humano, cidadão, terráqueo.
Deu vontade de subir ao palco e num inopinado arroubo declamar o triunfo, mais um, dos amores sobre os desamores, da sensatez sobre os desvarios, da esperança sobre os desesperos, da lucidez sobre as voluntárias cegueiras que renegam os tantos e novos horizontes que a arte nos concede.
Todavia, optei pela primeira e máxima reação do meu peito. Foi no silencioso aplauso das palpitações que me assaltavam que agradeci a Geraldo, Marcelo, Renato e seus cúmplices de vozes, instrumentais, luzes e alegorias. Era o simples acolhimento da sensação de uma noite presente que me atava ao futuro, garantia de dia seguinte, de encanto e da vida que passou e da que será!
Como aconteceu tudo isso num mísero mortal, metido a poeta?
Nada mais simples e acessível. Basta sintonizar o som da verdade, recitar a estrofe da poesia espontânea, tornar-se íntimo do talento que canta e toca com as gargantas, harpas, violões, sopros, percussões e cirandas de maviosos quereres da música que temos e ainda não a conhecemos toda.
Para acontecer tudo isso, é preciso ter mais Geraldos Espíndolas, Marcelos Loureiros e Renatos Teixeiras nas planícies de amplo e irrestrito domínio popular.
É ter a possibilidade de abraçar um luar de agosto ou viajar na cauda do cometa. É conseguir sentir-se sonhador e ambulante nas estradas imprevisíveis deste cosmos que nos habita.
É, sobretudo, derramar-se no leito de todos os rios que correm dentro de nós!
Que pena que a cidade só faz aniversário uma vez por ano!
O SHOW – Promovido pela Prefeitura de Campo Grande para festejar os 123 anos da cidade, “Saudações Pantaneiras” levou à Praça do Rádio Clube centenas de pessoas que foram saborear as composições, vozes e execuções instrumentais de Renato Teixeira, Geraldo Espíndola e Marcelo Loureiro, na quinta-feira, 25.
Absolutos, juntamente com seus músicos, os três renomados artistas deram ao publico um qualificado e carinhoso presente, interpretando alguns dos grandes títulos de suas carreiras e da produção regional – embora a música seja, por si, universal. No frenesi das cordas de violão e harpa, temas fronteiriços, como o “Guirá Campana”, contemplaram olhos e ouvidos com o impressionante domínio de notas, harmonias e improvisos deste extraordinário multiinstrumentista.
Geraldo Espíndola fez muita gente chorar, revirar o baú de lembranças doces e renovar a alegria dos corações com pérolas preciosas como “Quyquyho”, “Vida Cigana”, “Cunhatay Porã” e a recente “Violência Não”. Este foi um grito vigoroso e envolvente de paz e pela convivência humana, na voz inconfundível de um dos maiores artistas que o Brasil e o continente latinoamericano têm.
Renato Teixeira nem precisou pedir licença para agitar os corações. O publico já estava aquecido quando ele subiu ao palco, levando consigo uma nova e especial carga de arrebatamentos. E desfilou na atenção sublimada de quem, com ele, cantou sucessos como “Romaria”, “Chalana” e “Um Violeiro Toca”, entre outras maravilhas do seu rico e espetacular repertório.