“Eu preciso trabalhar. Sou mãe. Sou arrimo de família. Mas sou invisível”. A frase é de uma das mais de três mil prostitutas que trabalham em Belo Horizonte. Em mais de um ano de pandemia, estas mulheres, travestis e transexuais têm enfrentado o descaso e, muitas vezes, a fome.
A doença afastou clientes e fechou hotéis na chamada “zona boêmia”, na região da Rua Guaicurus, no centro da cidade. Muitas prostitutas tiveram que ir para as ruas onde, segundo elas, o trabalho é mais difícil e perigoso.
“Não têm políticas públicas direcionadas às profissionais do sexo. Muitas têm família. Filhos. Até netos. Algumas conseguiram auxílio emergencial no ano passado. Acabou e agora vai ter menos. Tem gente passando necessidade. Somos trabalhadoras e merecemos respeito”, falou Cida Vieira, presidente da Associação das Prostitutas de Minas Gerais (Aprosmig).
Uma das profissionais que trabalha na Rua Guaicurus lamenta o pouco movimento, mas entende o risco provocado pela alta na transmissão do coronavírus.
“Eu limpo todo o quarto. Tomo todos os cuidados e peço para o cliente tomar também. Álcool em gel, máscara. A gente tem medo, mas a gente tem que ir à luta”, contou ela, que não quis se identificar.
Com a onda roxa valendo desde quarta-feira (17), os hotéis onde as prostitutas trabalham voltaram a ficar fechados. A primeira vez foi em março do ano passado.
“Vou ter que fazer meu corre, né? Me virar. Um dia a gente volta a ver o salão cheio”, disse a prostituta.