Comunicação sexual: saiba como é possível melhorar o sexo e a intimidade na hora H

Comunicação sexual: saiba como é possível melhorar o sexo e a intimidade na hora H — Foto: Freepik

Especialistas sugerem caminhos para casais que desejam melhorar a intimidade durante o sexo e não sabem como é possível.

Por Clarice Muniz, Especial para o gshow — Rio de Janeiro

Muitos casais têm queixas da prática sexual no dia a dia, seja pela diminuição da conexão ou perda da química, e a comunicação pode ser o fator necessário para reverter esse processo de desgaste e estimular a intimidade do casal.

Quais são os melhores caminhos? O que fazer para resgatar a chama da relação na hora H? “A comunicação entre casais ainda é um grande problema. Se conseguissem expor mais claramente um para o outro o que pensam, sentimentos que são despertados diante de determinadas situações, o que gostam ou não, o que desejam, tudo ficaria mais fácil e a negociação dos acordos na relação ficaria mais tranquila”, aponta a sexóloga Carla Cecarello.

A comunicação é a base, ajuda a estreitar laços, aumentar a vulnerabilidade e, consequentemente, a intimidade, a honestidade e a confiança, acrescenta a sexóloga Carol Bruning.

“Eu preciso sentir que o outro está lá para mim e isso inclui o sexo, porque o bem-estar sexual é o bem-estar na relação. O sexo é o ápice da intimidade, se eu não tiver vontade com essa pessoa, não vai ser bom para os dois. É importante que os casais sejam claros, abertos e assertivos verbalmente.”

Mas para evitar confusão, Carla Cecarello alerta qual o momento em que essa comunicação jamais deve ser feita: “Nunca na hora do sexo. A hora do sexo é a hora do sexo, é justamente a hora de você praticar o que você conversa anteriormente com a sua parceria.”

Comunicação sexual: saiba como é possível melhorar o sexo e a intimidade na hora H — Foto: Freepik

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O momento certo para discutir os desencontros do casal no sexo

A especialista afirma que, durante o momento de intimidade, essa comunicação deve ser diferente. “Tem que ser mais divertida, erótica, sensual, prazerosa. Se a comunicação existir desta forma, é muito melhor”, explica ela.

É neste momento em que as trocas são experimentadas, descobertas e ajustadas. “Porque tem condições ali de mudar de posição, de fazer coisas diferentes e tudo mais. Mas trazer outro tipo de comunicação ou discussão de algum assunto mais elaborado para a hora do sexo atrapalha.”

A sexóloga resume de forma descomplicada como é possível dar os primeiros passos para melhorar a vida sexual através do diálogo: “Você tem que fazer um levantamento dos pontos do que não está bom na vida sexual do casal, do que gostaria de melhorar e poder trazer à tona, não no momento do sexo.”

Ela sugere marcar um lugar para sair do ambiente da casa, “longe da cama”, onde se possa realizar uma conversa civilizada e trocar as ideias: “Começando por pontos mais simples e pouco a pouco trazendo pontos mais complicados para a relação. Isso ajuda muito porque cresce a intimidade.”

Mas para quem sente dificuldade em iniciar nesse processo ou dar continuidade, a busca de um psicólogo pode ser a melhor opção. “A forma de mudar isso, muitas vezes, é buscando ajuda de um profissional, ele vai mostrar as deficiências dessa comunicação e a importância de trazê-la para o relacionamento.”

Buscar informações na internet e redes sociais ajuda?

Segundo as especialistas, apesar de as redes sociais, os aplicativos, a internet, de modo geral, abrir espaço para uma maior comunicação e trocas de experiências, essa opção não vai colaborar de forma efetiva para os problemas do casal.

“A internet tem a questão do viés cognitivo, a gente encontra as coisas que fecham muito com o nosso jeito de pensar e elas não necessariamente são verdade. Esse é um problema. Há informação de todo tipo na internet e o hábito que temos de buscar aquela que se encaixa mais com a nossa expectativa e perspectiva pode atrapalhar”, afirma Carol Bruning.

“Em nenhum momento, eu vejo como um benefício, muito pelo contrário. As dificuldades existentes entre os casais que precisariam ser comunicadas, são dificuldades porque muitas vezes estão relacionadas à vivência e à educação de cada um. Isso não é algo que você encontra nas redes sociais, é algo que você começa a sentir a partir das vivências a dois”, aponta Carla.

Ela afirma que toda a energia das pessoas é gasta se comunicando com os outros nas redes sociais, se expondo aos outros, e isso atrapalha que uma energia em potencial seja investida na discussão da relação a dois.

Comunicação sexual: saiba como é possível melhorar o sexo e a intimidade na hora H — Foto: Freepik

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‘A gente problematizou a DR!’

A sexóloga Carol Bruning defende o poder da discussão da relação: “Um dos mitos que a gente tem hoje é de que DR é ruim, que é dor de cabeça, que é coisa de mulher, que falar do sentimento é um saco, vai ser reclamação, vai ser exigência.”

Na verdade, a DR deveria ser uma forma de medir a temperatura do relacionamento: estamos felizes nesse nosso acordo? O nosso acordo, nesse momento, ainda serve para nós dois? Está todo mundo satisfeito com o que está dando ou recebendo nessa relação?

“A gente problematizou a DR como se fosse uma conversa muito difícil e espinhosa, mas não é. A conversa é essencial. Muitas vezes, a internet te ajuda a resolver uma coisa sem necessariamente falar com o outro. O excesso de informação está ali tanto para o bem quanto para o mal”, pondera.

Como dá para perceber o momento da perda da conexão no sexo

Com o tempo, frustração e ressentimento podem começar a surgir no relacionamento. É desta forma que a sexóloga afirma que os problemas na intimidade do casal se desenvolvem.

“Porque a gente não se sente ouvido ou não consegue se comunicar. Normalmente essas são as duas grandes demandas. Quando você vai destrinchando, aparece essa questão de não se sentir visto, ouvido, validado, respeitado. Isso está ligado à pouca comunicação, que impacta na relação”, aponta a especialista.

“Quando as pessoas se sentem constrangidas e intimidadas sexualmente, acabam de alguma forma desgastando essa relação, seja tornando ela mais fria, mais tensa ou mais distante”, acrescenta.

Carla Cecarello destaca que no momento em que a relação começa a não ficar muito boa, e se a pessoa percebe que alguns desencontros já são recorrentes na hora do sexo ou mesmo no dia a dia, é o momento de melhorar o diálogo.

“Criar o hábito de conversar no relacionamento é uma forma de se preservar a relação, de se blindar contra problemas. Vale a pena. Se começa a perceber que a relação não está bem, é importante que comece a se criar o hábito desse diálogo da forma mais estruturada”, sugere.

Comunicação sexual: saiba como é possível melhorar o sexo e a intimidade na hora H — Foto: Freepik

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Medo, timidez e insegurança para expor problemas com a parceria

Muitas vezes acontece de uma das partes do casal se recusar, ou ter dificuldade, de não querer se comunicar sobre necessidades sexuais. “Essa parte acaba sendo relutante sobre outros aspectos do relacionamento também. Às vezes o sexo é só a ponta do iceberg”, afirma Carol.

Alguns casais que buscam a terapia chegam distantes e, segundo ela, às vezes têm uma vida sexual com problemas: “Descrevem muito como ‘se não me procura é porque não me ama mais’ e ‘se me procura ainda, tá tudo bem’. O sexo vira uma outra coisa, quando deveria ser mais uma parte integrante do que é bom para todos os envolvidos.”

E quem não se sente encorajado a iniciar esse tipo de diálogo? “É importante levar em consideração que está tudo bem se sentir desconfortável ou envergonhado de falar de sexo. Não é uma coisa incentivada na nossa cultura, em especial para mulheres”, destaca a sexóloga.

Ela lembra que muitos indivíduos são criados para entender que o sexo é uma “coisa ruim, suja, um tabu”: “Até os 18 anos, você é criado para jamais considerar sexo, e quando está num relacionamento ou num caso, surge a pressão para ter filhos, para ser feliz, para não se separar. E o sexo continua sendo uma peça-chave na vida desse relacionamento.”

Para quem sente vergonha de iniciar esse tipo de conversa, ela orienta começar a escrever sobre o que pensa e compartilhar com a parceria. O primeiro passo é explicar. “Eu escrevi algumas coisas que eu estava pensando aqui sobre sexo, eu queria que você me ouvisse primeiro e depois comentasse o que considera a respeito dessas coisas que eu pensei…”, sugere como ponto de partida.

Comunicação sexual: saiba como é possível melhorar o sexo e a intimidade na hora H — Foto: Freepik

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Quais são os riscos do diálogo para a melhora da comunicação no sexo

“Não existe mudança sem algum risco”, aponta Carol Bruning. E o risco se refere a um pouco mais de exposição e mudar a forma de se fazer as coisas “um pouquinho diferentes do que você está acostumado”.

O primeiro ganho ao se falar sobre sexo dentro da relação é para o casal. “A primeira pessoa que sai ganhando de conseguir expressar suas necessidades afetivas é a pessoa que expressa. O resto é consequência.”

A psicóloga Carla Cecarello garante: “Essa comunicação, em nenhum momento, vai prejudicar a outra pessoa, mas vai colocá-la para pensar.” Trazer provocações para a relação é importante para o crescimento do relacionamento. “Só vai trazer um maior amadurecimento”, afirma ela.

Dicas para melhorar a comunicação sexual do casal
Se você deseja um passo a passo para tomar a iniciativa da conversa, Carol Brunning compartilha algumas dicas para facilitar o processo.

“A primeira coisa é saber dizer ‘sim’ para o que você quer e ‘não’ para o que não quer. Existe uma questão até bastante machista na relação do sexo que quando uma das partes recusa, a outra emburra, e isso leva a um sentimento de culpa e remorso, fazendo com que a outra parte ceda. A gente tem que aprender a sustentar os nossos ‘nãos’. Ouvir ‘não’ faz parte da vida e não te torna menos desejável ou menos amado. Botar limite também faz parte do amor.”
“Falar para a pessoa que tipo de atividade gostaria de provar no sexo, quais coisas estaria disposto a experimentar ou que são inegociáveis e você jamais gostaria de experimentar nesse momento. A comunicação não verbal, de certa forma, também é importante em qualquer experiência sexual, mas a gente não pode só se apoiar nela, porque pode ser facilmente mal-interpretada.”
“E a comunicação durante o sexo? Eu não preciso sempre expressar verbalmente, mas posso prestar atenção como as minhas ações estão afetando o outro e como responde ao meu toque, ao meu beijo, à minha língua, ao sentir pele com pele, a respiração, gemido, suspiros, isso pode ajudar você a entrar na mesma frequência durante o sexo. Eu não preciso explicar tudo tipo ‘mais para cima, mais pra baixo’, eu posso só ficar atento às respostas.”
“Falar com a parceira sobre sexo aumenta a segurança sexual. Se vou conversar com a pessoa, eu também vou aumentar a minha confiança e segurança com ela. E o que a gente pode conversar? Perguntar que tipo de toque a pessoa gosta, falar do que eu gosto, se tem partes do teu corpo que não quer ou não gosta que sejam tocadas, que tipo de sinal vai me dar para saber se eu não posso ir tão longe, se tem alguma atividade sexual que já considerou. É para curtir sem barreira.”

Segundo as especialistas, a comunicação sobre sexo é uma habilidade que requer prática e feedback. Por mais que possa ser um pouco tímida ou travada no início, com o tempo se torna mais espontânea.

“A habilidade de comunicação é ‘um músculo’ que precisa ser exercitado, mas você tem que estar disponível e assumir certos riscos, no sentido de sair da sua zona de conforto. Se você planeja ter uma relação saudável com essa pessoa e ficar com ela, é a comunicação que vai sustentar a relação acima de qualquer outra coisa”, ressalta Carol Bruning.

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