“Tudo no mundo é sobre sexo, exceto o sexo. Sexo é sobre poder.” —frase atribuída a Oscar Wilde.
Há em todo humano um vazio primordial. Uma falta existente no âmago do ser que parece delatar uma incompletude irremediável. Nossas lacunas exigem a satisfação, e daí nasce o desejo — procuramos fora de nós a saciedade para aquilo que guardamos dentro. Às vezes, dentro demais. Embarcamos em uma eterna busca por algo que nos complete e nos preencha, que sacie este vácuo indescritível e indecifrável.
A má notícia é que este oco não se soluciona nem se esvai. Ele apenas existe. E a vida a partir daí entra em um círculo destrutivo que se conserva — o que queremos é a total saciedade, isto é, a extinção do desejo. Como diriam poetas: morrer de amores, de gozo, de prazeres. Todo desejo contém em si um impulso à sua destruição, ele quer ser satisfeito. Contudo, esse processo nunca termina. Nada se satisfaz em totalidade e tudo sempre foge à completude — é este vazio que permite a continuidade do desejar. O vácuo nos impulsiona em frente.
Já o dito de que ‘a relação sexual não existe’ é, na verdade, uma provocação feita pelo psicanalista Jacques Lacan, em um de seus seminários.
A ideia é a de que não há ‘relação’ além do ato sexual porque é impossível a intermediação entre os corpos. Não há formação de unidade a partir de duas partes, não há encontro nem conexão. Apenas dois objetos distintos que se aprazem buscando uma univocidade, uma completude, e se chocam em barreiras narcísicas. Os amantes buscam um encontro que sempre se desencontra, e por isso nunca deixam de se procurar.
Exemplo disto é a questão da subserviência da sexualidade à fantasia. Fantasiar é, precisamente, colocar o outro num papel idealizado ao qual este outro não corresponde. O tesão nasce dos estímulos aos quais as fantasias sexuais evocam. Não há sexo sem fantasia, logo, não há sexo com correspondência. “Relacionar-se” sexualmente é, desta maneira, inserir o outro em uma representação, num distanciamento do real, num ideal que existe tão-somente na mente do excitado. O prazer é sempre produto de nosso crivo narcísico.
A polêmica, então, emerge porque o centro vital de nossas vidas advém, em sua maioria, de nossa inconformabilidade com a falta interior, monstruosa e difícil de se lidar. Assim, voltamo-nos às externalidades e futilidades da vida cotidiana como distração ou negação. É mais fácil tratar de desilusões amorosas do que de frustrações ontológicas. Procuram-se amores, transas, amizades ou busca-se a identificação com classes, grupos ou personalidades. Mas no fim tudo são espelhos.
Não há relação. Apenas um vazio que o narcisismo maquia.