Devido à escassez de doses, cerca de nove capitais brasileiras suspenderam a aplicação da segunda dose da vacina CoronaVac, do Instituto Butantan, produzida em parceria com o laboratório chinês Sinovac: Aracaju (SE), Belo Horizonte (MG), Campo Grande (MS), Fortaleza (CE), Goiânia (GO), Rio de Janeiro (RJ), Porto Alegre (RS), Porto Velho (RO) e Recife (PE).
O cenário de escassez é decorrente da diretriz do Ministério da Saúde, ainda na gestão do general e ex-ministro Eduardo Pazuello, em fevereiro deste ano, de utilizar todas as doses existentes para a primeira aplicação.
Com isso, a pasta deixou de garantir a segunda dose para aqueles que receberam a primeira. O intervalo entre as duas doses é de 14 a 28 dias.
Até às 20h de domingo (2), 31.875.681 pessoas receberam a primeira dose de vacina, o que representa 15,05% da população brasileira. Já a segunda dose foi aplicada em apenas 7,49% da população, ou 15.869.985 pessoas, de acordo com dados do consórcio de veículos de imprensa. No total, 47.745.666 doses foram aplicadas.
Em abril, a média diária de aplicações foi de 816 mil doses, quantidade insuficiente para a imunização ser considerada em massa.
O próprio atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que neste ritmo a vacinação dos grupos prioritários seria concluída apenas em setembro deste ano.
A ausência da segunda dose, explicou o microbiologista Atila Iamarino em suas redes sociais, pode provocar o surgimento de variantes mais resistentes às vacinas que existem hoje.
“Quem toma só uma dose pode desenvolver imunidade parcial. O que não seria suficiente para proteger a pessoa do vírus. Mas pode ser suficiente para selecionar linhagens virais que escapam dessa imunidade”, afirmou o pesquisador.
Segundo um levantamento feito pelo jornal Folha de S. Paulo, em termos percentuais, o abandono vacinal no país é de 14,13% para os brasileiros que estão sendo imunizados com a CoronaVac, que representa 83% das vacinas aplicadas no país.
Por estado, no Amazonas, a taxa sobe para 31,31%, apresentando o maior índice entre os estados, seguido por Roraima (26,12%) e Sergipe (22,97%). Na outra ponta, figurando os estados com menos abandono vacinal, estão Alagoas (6,34%), Rio Grande do Norte (6,69%) e Espírito Santo (7,63%).
Novas remessas de doses
O recebimento de novas doses e a produção autossuficiente de insumo são os únicos caminhos para a vacinação em massa.
O Brasil recebeu neste fim de semana os primeiros lotes da vacina produzida pelo laboratório britânico AstraZeneca e a Universidade de Oxford por meio do consórcio Covax Facility, uma iniciativa internacional da Organização Mundial da Saúde (OMS). No total, foram 3,9 milhões de doses.
A estas, somam-se 6,5 milhões de doses distribuídas do imunizante produzido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com a universidade e o laboratório britânicos e 420 mil doses da CoronaVac. A quantidade, no entanto, deve durar somente cerca de duas semanas, se o ritmo de vacinação seguir o mesmo de abril.
Segundo Alberto Chebabo, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), as remessas não são suficientes para erradicar a pandemia, mas podem influenciar em uma pressão menor em cima do sistema de saúde, com menos pessoas demandando serviços. “Vacinamos menos de 1 milhão, e o ideal seria ao menos 1,5 milhão” por dia, afirmou ao Globo.
De acordo com o cronograma de entrega de doses feito pelo Ministério da Saúde, a expectativa é receber durante o mês de maio um total de 34,5 milhões de doses: 21,5 milhões da Fiocruz (AstraZeneca/Oxford), 5,6 milhões do Instituto Butantan (Sinovac/CoronaVac), 4 milhões da AstraZeneca e 842,4 mil da Pfizer/BioNTech, por meio do consórcio Covax e 2,5 milhões da Pfizer/BioNTech, sem mediação do consórcio.
Fiocruz começa a produzir IFA
Na última sexta-feira (30), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a produção do Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) no Brasil a partir da transferência de tecnologia da AstraZeneca para o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos Bio-Manguinhos da Fiocruz.
“Com isso, a Fiocruz está autorizada a iniciar a produção de lotes-piloto, em escala comercial, da vacina covid-19 (recombinante) com o IFA produzido no Brasil”, informou a agência reguladora em nota.
“A produção será destinada ao Sistema Único de Saúde (SUS). Após os testes, a Fiocruz deve solicitar a inclusão do insumo no registro ou fazer um pedido de autorização de uso emergencial. A aprovação técnica veio após a inspeção que verificou as Boas Práticas de Fabricação da linha de produção e concluiu que Bio-Manguinhos cumpre os requisitos das condições técnico-operacionais (CTO) para iniciar a produção de lotes.”
Pandemia no Brasil
O Brasil registrou 1.202 mortes por covid-19 nas últimas 24 horas, totalizando 407.639 óbitos decorrentes da doença no país desde o início da pandemia, segundo dados do Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass) deste último domingo (2). A quantidade de casos chegou a 14.754.910, com o acréscimo de 28.935 novos casos no último período.
Os números, no entanto, devem ser mais expressivos, uma vez que durante os fins de semana o registro de óbitos e casos fica comprometido devido ao regime de plantão dos centros de saúde e laboratórios, o que atrasa o repasse de informações.
Ainda assim, há algo a se comemorar: entre o fim de janeiro e o começo de abril houve uma diminuição de 21% nas mortes e de 15% nos casos entre pessoas com mais de 80 anos, devido à imunização dos idosos.
Fonte: Brasil de Fato