Lance, amizade colorida, ficante sério e contatinho são alguns termos utilizados pelos ‘Gen Z’
Como os jovens se relacionam? Será a Geração Z mais aberta a novos formatos de relacionamento? Qual a diferença dos chamados Gen Z para seus pais e avós? Para tentar responder a essas perguntas, o Labjor foi atrás não só de nascidos entre 1997 e 2010 — a chamada Geração Z — como também psicólogos e outros especialistas. E te conta a seguir o que apurou.
“É evidente que experimentamos mudanças significativas no modo de viver a sexualidade nos últimos 40 anos”, resume a jornalista e doutora em Sociologia Mônica Barbosa, integrante do Grupo de Pesquisa Políticas, Afetos e Sexualidades Não Monogâmicas da Universidade Federal de Juíz de Fora. “Penso que a internet não apenas abriu um amplo espaço de informação e debate, que favorece o que estão chamando de Geração Z, como possibilita o acesso a debates sobre temas que antes eram privilégios de alguns grupos. Práticas como o poliamor e as relações livres se popularizaram pela internet, por exemplo.”
“A diferença entre as gerações anteriores para a Geração Z é que o fato de já terem nascido nessa era da internet influencia muito a maneira como vivenciam a sexualidade”, explica a terapeuta de casal Mariana Beraldi.
Ela lembra que os relacionamentos vão mudando com o tempo. Séculos atrás os casamentos eram feitos por conveniência e para proteção da propriedade privada, totalmente dentro das normas sociais — monogâmicos e cis-heteronormativos. A partir do século 19, porém, casamentos por conveniência e arranjados começaram a ser questionados por movimentos literários. O romantismo reforçou então o modelo do amor romântico como o ideal. Hoje em dia, porém, até esse casamento por amor, até então considerado ‘natural’, está sendo questionado.
“Em comparação com as gerações passadas, acho que agora as pessoas estão tentando viver mais a vida do que se prender a um relacionamento”, opina o universitário Vinicius de Oliveira, de 24 anos. “Por exemplo, meu pai aos 20 anos já era casado e tinha uma clínica… Bem diferente de alguém de 20 anos hoje da Geração Z.”
Também de 24 anos, a influenciadora Julia Barni conta que, desde a adolescência, quando começou a vida amorosa, sentia-se “insensível” ao ficar com alguém. Segundo ela, mesmo gostando muito do(a) parceiro(a), conseguia sair com outras pessoas sem mudar seu sentimento.
“Eu ficava com uma menina e era apaixonada por ela. Mesmo assim conseguia ir às festas e beijar outras pessoas. Às vezes comentava com minhas amigas e elas falavam que talvez eu não gostasse tanto dela. Quando percebi que ia perdê-la por conta de como eu me sentia, a pedi em namoro. Conforme foi passando o tempo, fui me sentindo culpada por me sentir assim.”
Lançado pelo aplicativo de relacionamento Tinder, o relatório The Future of Dating — O futuro do namoro, em inglês — revela que 75% dos Gen Z acreditam estar desafiando os padrões de namoro e relacionamento que foram transmitidos a eles.
“A Geração Z prefere usar uma terminologia que não defina imediatamente uma conexão antes que todas as partes estejam prontas, ou até mesmo tenham vontade de definir. Por isso, termos como ‘lance’, ‘amizade colorida’, ‘ficante sério’, ‘contatinho’ e, é claro, ‘ficante sem compromisso’ se alinham mais com a maneira como os jovens de 18 a 25 anos enxergam o processo de relacionamento.”
Mesmo os Gen Z sendo mais abertos a novas formas de relacionamento, ainda existem porém muitos jovens que buscam um amor para a vida toda ou um casamento tradicional. Pelo menos é o que aponta o estudo feito pelo site HSR Researchers, segundo o qual sete em cada dez jovens entre 18 a 25 anos desejam comprar um imóvel para morar. “Muitas pessoas acreditam que a Geração Z é bastante desapegada e não tem interesse em criar raízes em um só lugar. Esse é outro mito observado na pesquisa.”
GLOSSÁRIO:
Não-monogamia: Toda prática ou filosofia de relacionamento íntimo que não depende estritamente de padrões de monogamia.
Poligamia: É o casamento ou a união conjugal entre três ou mais pessoas.
Geração Z: Nascidos entre 1997 e 2010
Ficante sério: Compromisso com o outro no sentido de respeito e fidelidade. Relacionamento tradicional tem peso maior por envolver famílias e amigos
Isadora Garcia é aluna de Jornalismo da FAAP