Em péssimas condições, rodovias BR-262 e BR-267 têm história para contar

REPRODUÇÃO

As péssimas condições de trafegabilidade das rodovias federais BR-262 e BR-267, que já estão afetando o escoamento da produção agropecuária de Mato Grosso do Sul e colocando em risco a vida das pessoas que se utilizam das delas para se locomover, são uma vergonha para a importância dessas duas vias para a economia e também para a história do Estado.

BR-267

No caso da BR-267, no trecho que vai de Nova Alvorada do Sul até Bataguassu, tem uma história centenária para contar forjada por Manuel da Costa Lima, mais conhecido como “Major Cecílio”, título de honra recebido por ser major da guarda nacional. Nascido no distrito de Baús, em Santana de Paranaíba (SP), em 8 de outubro de 1866 e falecido em Campo Grande (MS) em 11 de agosto de 1955, foi um construtor e empreendedor brasileiro, pioneiro na abertura de ligação do então sul de Mato Grosso com São Paulo, responsável pela primeira navegação a vapor no Rio Paraná, em 1906.

Ele fundou as localidades de Porto XV de Novembro, Bataguassu e Santa Rita do Pardo, além de participar da fundação de Anaurilândia, todas em Mato Grosso do Sul. A partir de 1900, Manoel da Costa Lima prepara várias expedições à procura do caminho mais curto até o Rio Paraná com o objetivo de chegar aos grandes centros pecuaristas de São Paulo, já que o único caminho então era feito pelo Estado de Minas Gerais, após longo caminho, o que acarretava sérios prejuízos por conta da mortalidade dos animais.

Graças ao apoio dado por parentes, bem como de empregados seus, ele abriu uma estrada que ligava Campo Grande até à margem direita da foz dos rios Paraná e Pardo, onde fundou o Porto XV de Novembro. Ainda em 1900, abre uma picada nas matas de São Paulo, ao descer por onde hoje é a cidade de Presidente Epitácio (SP), em direção ao atual município de Indiana, onde convida os paulistas a povoar essa região.

De volta dessa expedição, atravessa o Rio Pardo, e após percorrer cerca de doze léguas, erige uma cruz de aroeira, onde funda um vilarejo chamado Xavantina, em homenagem aos índios Xavantes que ali moravam. Hoje, o lugar é denominado Santa Rita do Pardo. O Major Cecílio somente veio a ter o seu mérito de empreendedor visionário 64 anos depois da implantação da balsa boiadeira, em Porto XV de Novembro, durante o regime militar.

A ligação rodoviária entre a ponte Hélio Serejo, sobre o Rio Paraná, na divisa com São Paulo, até Campo Grande, passando por Nova Alvorada do Sul, foi batizada de Manuel da Costa Lima, abrangendo as rodovias federais BR-267, entre a divisa de Mato Grosso do Sul com São Paulo até Nova Alvorada do Sul, no entroncamento desta com a BR-163, e o trecho da BR-163, entre Nova Alvorada do Sul até Campo Grande, conforme Lei n° 5 616, de 14 de outubro de 1970, publicada no Diário Oficial da União, de 15 de outubro de 1970.

Em 1902, o Poder Executivo do Mato Grosso autorizava Manoel da Costa Lima a construir uma estrada de rodagem, sob o caminho aberto por ele, mas às custas do próprio explorador. Em 1904, entrega ao Governo o Memorial Descritivo da estrada de 54 léguas e 5.403 metros de extensão. Entretanto, dentro deste projeto, aparece um grande problema: 2.250 metros de largura, de margem à margem do Rio Paraná. Na época, ainda não havia cidades ou grandes portos na região. A solução então encontrada foi a aquisição de um barco a vapor.

Intrépido, Manoel da Costa Lima se dispôs a ir até Concepción, no Paraguai, vender seu gado para assim, adquirir uma embarcação, conhecida como Carmelita, também conhecida como Panchita. Também mandou fabricar carretões resistentes para o transporte do barco. Em 1905, a Carmelita já estava subindo os rios Paraguai, Miranda e Aquidauana. E foi na povoação de Aquidauana que ancorou. Com parcos meios, desembarcou os carretões e, com a força dos homens e dos bois, desmontou a embarcação e a levou até Campo Grande, puxado por duzentos bois, ocasião em que abriu a estrada Campo Grande-Aquidauana, cortando a Serra de Maracaju.

Na chegada em Campo Grande, causou grande alvoroço, já que o tamanho das peças e da comitiva era enorme para a época. Ficaram nas ruas centrais da cidade por três dias. Depois da saída de Campo Grande, rumo ao leste, a comitiva chega ao pontal dos rios Lontra e Anhanduizinho. Neste ponto, a embarcação é remontada, descendo as águas dos rios Anhanduí e Pardo até o Rio Paraná, no Porto XV de Novembro.

Do ponto de partida, na margem esquerda do Rio Aquidauana, subindo e descendo a serra de Maracaju até o arraial, ou vila de Campo Grande, mais de 60 dias foram gastos. Em 8 de outubro de 1906 iniciou-se a primeira navegação a vapor do Rio Paraná.

Manoel da Costa Lima ainda conseguiu trazer mais duas chatas de São Paulo, construiu balsas-currais, mangueiros, embarcadouros com brete e outras obras rústicas tanto em Mato Grosso do Sul, como na margem paulista do Rio Paraná (atual Presidente Epitácio e Porto Tibiriçá). Ainda nesse período até 1916, Manoel da Costa Lima instalou, nas recém-criadas fazendas da região, 36 linhas telefônicas, talvez as primeiras de Mato Grosso do Sul.

BR-262

Já a BR-262, essa rodovia federal chegará aos 54 anos em novembro deste ano com rachaduras e sem dinheiro por parte do Governo Federal para obras de duplicação ou pelo menos para garantir o tráfego seguro. Inaugurada em 25 de novembro de 1969, a estrada cruza o Brasil no sentido leste-oeste e interliga os Estados do Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso do Sul, começando em Vitória (ES) e terminando em Corumbá (MS), na fronteira com a Bolívia.

Chamada de “Rodovia da Morte”, a BR-262 é considerada uma das estradas mais perigosas do Brasil nos quatro Estados que cruza – Espírito Santos, Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso do Sul. Antes da sua inauguração no fim da década de 60 do século XX, a rodovia era chamada ainda de BR-031, mas já tinha a fama de ser a “Estrada da Morte”.

Preocupado com essa triste fama da rodovia federal, o governador Eduardo Riedel (PSDB) incluiu, no início deste ano, na reunião dos governadores com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o pedido de duplicação da BR-262, umas das principais via de escoamento da produção do Estado. O projeto atende o trecho que liga Campo Grande (MS) a Três Lagoas (MS), passando por Água Clara (MS) e Ribas do Rio Pardo (MS).

Com os projetos das novas fábricas de celulose, da Arauco e da Suzano, o volume de mercadorias que será escoado pela rodovia terá um crescimento exponencial. A estimativa é que apenas o Projeto Cerrado, da Suzano, deva produzir de 4 a 5 milhões de toneladas por ano, que serão escoados por caminhões pela rodovia a partir de Ribas do Rio Pardo.

Riedel conseguiu, com a ajuda da ministra de Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, ex-senadora do MDB de Mato Grosso do Sul, que a recuperação da rodovia federal entre no Orçamento da União, porém, até o momento, os recursos necessários para a melhoria da via não saíram do papel. No entanto, o governador não quer apenas que a rodovia federal seja duplicada, ele também sugere a privatização da via para garantir a trafegabilidade dela por muitas décadas.

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