Evangélicos ganham força em Campo Grande e já representam mais de 35% da população da Capital

Marcha para Jesus reuniu mais de 100 mil pessoas em Campo Grande
Lorena Segala/TV Morena

A 35ª edição da Marcha para Jesus, evento que marcou o encerramento da programação festiva dos 124 anos de Campo Grande, reuniu mais de 100 mil pessoas na Praça do Rádio Clube e demonstrou uma nova realidade: a força dos evangélicos no município.

Segundo o cientista político Antônio José Ueno, diretor-presidente do Grupo Ranking, o avanço dos evangélicos tem aumentando e já são mais de 35% da população da Capital, número esse levantado na última pesquisa do Instituto Ranking Brasil Inteligência. Outro detalhe comprovado é a força política desse seguimento que deve pesar muito nas eleições de 2024.

“A prefeita da Capital, Adriane Lopes (PP), é evangélica, assim como o esposo dela, o deputado estadual Lidio Lopes (Patriota), bem como o deputado estadual Professor Rinaldo (Podemos), a irmã dele, a ex-deputada federal pelo União Brasil e superintendente de Desenvolvimento do Centro-Oeste, Rose Modesto, entre tantos outros políticos aqui”, pontuou.

Ele ainda acrescentou que as maiores igrejas evangélicas aqui de Campo Grande são a Assembleia de Deus Missões, a Assembleia de Deus de Mato Grosso do Sul, os Batistas, os
Adventistas, as Comunidades Cristã do Brasil, entre outras. “Essas pessoas consomem muito, tem a moda evangélica, tem a música evangélica e tem a alimentação evangélica, como no caso dos adventistas, que não consomem refrigerantes e carne de porco”, reforçou.

No caso da música evangélica, Tony Ueno citou as atrações nacionais que participaram da Marcha para Jesus, como a Banda Morada, o cantor Anderson Freire, além do Ministério Trazendo a Arca e dos trios elétricos que puxaram os fiéis até ao Paço Municipal, pela Avenida Afonso Pena, onde houve uma parada para orações, louvores e atos de gratidão.

De lá, os fiéis seguiram para a Avenida Fernando Corrêa da Costa, onde deu início a mais comemorações com apresentações de 14 bandas regionais do movimento gospel. Além dos músicos de Mato Grosso do Sul, três bandas nacionais desembarcam na Capital para a celebração deste sábado.

O que explica multiplicação de templos evangélicos no Brasil

Eles eram minoria, mas podem ser maioria nos próximos anos. Nas últimas três décadas, o número de evangélicos cresceu rapidamente no Brasil, país onde a espiritualidade tem um papel preponderante na sociedade.

Uma faceta desta expansão do protestantismo no Brasil é a multiplicação de templos, como mostra uma pesquisa realizada pelo Centro de Estudos da Metrópole (CEM/Cepid) da Universidade de São Paulo (USP).

De 17.033 templos evangélicos, em 1990, o Brasil passou a contar com 109.560, em 2019. Um aumento de 543%. Apenas em 2019, último ano do levantamento, 6.356 templos evangélicos foram abertos no Brasil — uma média de 17 por dia.

O estudo realizado pelo pesquisador Victor Augusto Araújo Silva, que também integra o departamento de Ciência Política da Universidade de Zurique, na Suíça, analisou esse crescimento durante cem anos, de 1920 a 2019.

O levantamento foi feito com base em dados do Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ), que qualquer empresa, inclusive as igrejas, precisam ter no país para operarem, mesmo que sejam isentas de pagamento de Imposto de Renda e de outros tributos.

A pesquisa mostrou que o primeiro templo foi aberto em 1922. Em 1970, eram 864. Meio século depois, em 2019, havia aproximadamente quase 110 mil. Especialistas apontam alguns fatores que mais contribuíram para esse fenômeno: o crescimento do movimento evangélico no país; mudanças na legislação brasileira que facilitaram a abertura de igrejas e templos; o crescimento econômico que o país experimentou nos anos 2000; e o próprio papel que o templo cumpre na atração e fidelização de fiéis e na dinâmica das igrejas evangélicas.

Para Ana Carolina Evangelista, cientista política e diretora executiva do Instituto de Estudos da Religião (Iser) e que se dedica a pesquisas do segmento evangélico desde 2016, as forças evangélicas na política se subdividiram no Brasil.

Parte dessas forças se alinhou politicamente à extrema-direita e se fortaleceu durante os quatro anos do governo Bolsonaro, ocupando ministérios e cargos no Judiciário. A bancada evangélica no Congresso também ganhou poder para avançar pautas conservadoras com apoio institucional do Executivo.

“Grande parte das lideranças políticas religiosas estão alinhadas com esse novo cenário da extrema-direita no Brasil e no mundo. Eu não vejo essas forças, sobretudo as que se alinharam mais explicitamente à extrema-direita, voltando para o centro”, analisou Ana Carolina Evangelista.

Para a pesquisadora, em um Brasil mais evangélico e mais radicalizado, os espaços de diálogo entre o novo governo e lideranças religiosas precisam ser múltiplos.

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