Falemos de Natal…

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Ele foi um personagem de invulgar brilhantismo no cenário intelectual. Autor de mais de uma dezena de livros, adotados em universidades brasileiras e do exterior, sociólogo renomado, professor emérito, filósofo respeitado, padre Juvenal Arduini, de saudosa memória, integrou um sem-número de importantes instituições culturais, dentro e fora do País, consagradas ao intercâmbio de ideias entre pensadores que – pode-se dizer – compõem a elite da inteligência contemporânea. Pregador eletrizante, vinculou-se por décadas ao movimento universitário do Triângulo Mineiro.

Sendo da tradição, nesta época do ano, a divulgação de crônica centrada na celebração da data considerada máxima do calendário cristão, vamos ocupar o espaço, com larga margem de vantagens para os leitores, com comentário natalino de autoria do fulgurante pensador.

Com a palavra mestre Juvenal Arduini.

“Celebrar o Natal é grande alegria. Mas é preciso sondar o autêntico sentido do Natal. Natal cronológico é data de calendário. Natal mercantilista é comércio. Natal hedonista suga prazer. Natal suntuoso é minado pelo luxo. Natal residual distribui restos de coisas e resíduos emocionais. Natal usurpado é movido por interesses sujos. Natal do abandono esquece os sofredores. Natal egoísta não ouve o soluço encolhido e nem o choro desatado. Natal banalizado entorpece a Fé.

É necessário resgatar o verdadeiro sentido do Natal que é encontro ou reencontro com Deus. Nas vertentes da história natal começa a revelar-se intensamente o projeto de Deus através da vida e palavra de Jesus. Natal inocente, de olhos puros, de sorriso terno, de mãos limpas, de coração cheio de sementes evangélicas.

Natal de amor. Amor original, oblativo, repartido. Amor sem mágoa, sem cobrança, sem cláusulas, sem preço fixo. Amor que não ofende, não machuca, não exige compensação. Amor capaz de compreender e de perdoar.

A vida cresce, frutifica, embeleza. Vida é energia, é audácia, é teimosia, enfrenta desafios. “E não há melhor resposta que o espetáculo da vida”, poetiza João Cabral. A vida fala, inova, pesquisa, reabre caminhos, inventa a arte. Vida que se preza, não se vende.

Cristo fez-se irmão de toda a humanidade. O sangue da humanidade é também sangue de Cristo. A humanidade de todas as raças e culturas está organicamente articulada com Cristo. Todos somos irmãos de Cristo e irmãos entre nós. O Natal ensina que a fraternidade deveria prevalecer em todos os continentes.

Natal e os pobres. A Bíblia clama em favor dos pobres, escravos, órfãos, famintos e excluídos. Jesus nasceu pobre e viveu pobre para reerguer os que se arrastam pelo chão. Natal não pode ser usado para sacralizar a miséria. Celebrar coerentemente o Natal é assumir o compromisso de promover a dignidade dos empobrecidos. Natal interpela a consciência morna. Mais de dois bilhões de pobres no mundo questionam a humanidade. Não basta lamentar a pobreza. Não basta sedar os pobres. É preciso restituir-lhes a estirpe de gente.

Natal é paz. O nascimento de Jesus anunciou “paz na terra aos homens”. A paz repartida por Cristo é substancial e universal, é para todos. Não é a paz dos poderosos que impõem silêncio e subordinam os fracos. A paz do Natal emancipa e dignifica todo ser humano. É paz gerada pela justiça e não pelo orgulho.

O Natal plenifica e confraterniza a humanidade. Natal da vida e do amor, da esperança e do canto, da justiça e da paz, do homem e da mulher, dos trabalhadores e dos cientistas, dos educadores e dos estudantes, dos intelectuais e dos comunicadores, dos empregados e dos desempregados, dos sadios e dos enfermos, da orfandade e da solidariedade, do pão e da festa, das metrópoles e das sublimidades.

Celebremos e vivamos o significado pleno do Natal, para sermos nova humanidade.”

“Natal interpela a consciência morna.” (Juvenal Arduini, padre, sociólogo, filósofo)

Por Cesar Vanucci*

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