Frio, frutas e finanças: as razões por trás da queda no preço da laranja brasileira

Oferta antecipada de laranjas-pera e Hamlin e uma onda de frio no cinturão citrícola derrubaram os preços na última semana de junho, aponta o Cepea/Esalq-USP, acendendo alerta para produtores e expectativa de consumo no mercado de mesa.

O suco de laranja que chega à mesa dos brasileiros parece igual todos os dias, mas o valor pago pelo produtor e cobrado no mercado muda sem aviso. Nesta última semana de junho, o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq-USP) divulgou números que chamaram atenção: a laranja-pera in natura foi vendida, em média, a R$ 60,47 por caixa de 40,8 kg, 4,1% abaixo do registrado na semana anterior. Já a variedade Hamlin, colhida mais cedo, recuou expressivos 12,3%.

Esses percentuais dizem muito sobre o momento da citricultura paulista e mineira, duas regiões responsáveis por mais de 70 % da produção nacional.

De um lado, a aproximação da nova safra aumenta a oferta; de outro, uma frente fria recente trouxe preocupações pontuais para os pomares. Entender esse “abre-e-fecha” de fatores ajuda a explicar por que o consumidor pode ver promoções no sacolão enquanto o produtor faz contas apertadas.

Oferta precoce pressiona o bolso do produtor

A primeira peça desse quebra-cabeça é a chegada dos frutos precoces. As laranjas que amadurecem antes do pico de safra costumam alcançar preços melhores, pois entram no mercado quando a demanda ainda é firme e a concorrência é menor.

Em 2025, no entanto, a janela ficou apertada: a produtividade das variedades precoces foi boa, acelerando a colheita e inundando o mercado de mesa em poucas semanas.

Com mais fruta disponível do que compradores dispostos a pagar o “prêmio” da novidade, as cotações caíram rapidamente. A laranja-pera, carro-chefe da citricultura de mesa, perdeu pouco mais de quatro reais em apenas sete dias, enquanto a Hamlin, mais sensível ao excesso de oferta, despencou quase sete reais. Para muitos citricultores, a saída tem sido negociar parte do volume com as indústrias de suco, que pagam menos, mas garantem escoamento imediato.

Quando o termômetro cai: efeitos do frio no pomar

Por mais que o Brasil seja lembrado pelo clima tropical, episódios de frio intenso não são raros no inverno do Centro-Sul. Nesta segunda quinzena de junho, termômetros chegaram perto de 0 °C em áreas altas do cinturão citrícola. Ainda assim, técnicos do Cepea apontam que os danos foram pontuais, nada parecido com as geadas severas vistas em 2021.

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A entrada antecipada de variedades precoces aumentou a oferta de laranjas no mercado, pressionando os preços já antes do pico da safra.

Principais impactos mapeados nos pomares até agora:

  • Coloração irregular: temperaturas baixas podem retardar o “amarelado” típico das variedades de mesa ou, no caso da lima ácida tahiti, induzir coloração amarelada indesejada.
  • Rachaduras sutis: o choque térmico aumenta a chance de microfissuras, reduzindo a vida de prateleira.
  • Queda de flores tardias: algumas plantas que floriram fora de época perdem botões, diminuindo a produção futura.
  • Menor ritmo de colheita: trabalhadores evitam entrar em pomares molhados e frios, alongando o tempo de fruta na árvore.

Embora os estragos diretos tenham sido limitados, o frio reforçou a sensação de “mercado parado”. Quando o consumidor sente mais frio, tende a reduzir a compra de frutas frescas e procura alimentos quentes, travando ainda mais a demanda de mesa.

Tahiti no radar e o que esperar daqui para frente

Se a pera e a Hamlin sofrem com excesso de oferta, a lima ácida tahiti vive situação oposta: a disponibilidade está curta, mas o frio ameaça sua principal característica comercial, a casca verde-viva. Bastam poucos dias de temperaturas baixas para a fruta assumir tons amarelados, o que, para muitos compradores, significa maturação avançada e menor valor. Além disso, a tahiti é menos tolerante a manuseio em clima úmido, aumentando perdas pós-colheita.

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Para o curto prazo, analistas projetam que as cotações da laranja de mesa continuem pressionadas até que a colheita avance sobre variedades de meia estação e as indústrias absorvam parte do excedente. Já a tahiti dependerá do comportamento do clima em julho: se as madrugadas seguirem geladas, a coloração amarela pode se intensificar, limitando o preço mesmo com pouca fruta disponível.

Referência da notícia

Diárias de Mercado, Citros: Preços seguem em queda; impactos do frio são pontuais. 27 de junho 2025. Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, Cepea/Esalq-USP

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