Nos idos de 1878, quase um século antes da instalação do Mato Grosso do Sul, foi lançado em Corumbá, o jornal A Opinião, sob a direção de Antônio Joaquim Rocha e redação do jornalista Amâncio Pulquério. No ano anterior, havia sido publicado o primeiro jornal da mesma localidade, intitulado O Iniciador, cuja trajetória foi objeto de um artigo já publicado aqui no Diário MS News, destacando tratar-se de um periódico que atravessou longos anos de publicação. Por outro lado, o jornal cuja trajetória focalizamos neste texto tinha uma conotação de natureza política.
O diretor do jornal A Opinião era o chefe do diretório corumbaense do Partido Conservador, dono de uma grande empresa de barcos que faziam o transporte fluvial de carga e de passageiros. Além do mais, o jornal foi lançado num contexto favorável, na convergência de sucesso no campo econômico e sua forte base na política. Desse modo, o projeto jornalístico dependia dos rumos políticos favoráveis daquele momento, enquanto os protagonistas de O Iniciador optaram em definir como principal linha de informação, as oportunidades comerciais e financeiras existentes em Corumbá.
Um traço comum aos dois jornais era o fato de serem projetos realizados por arrojados imigrantes portugueses, empenhados em participar daquele momento de florescimento econômico. Mas, A Opinião circulou por um período aproximado de três anos, de acordo com informações disponíveis na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Em meados de 1880, a tipografia impressora do jornal foi vendida para outro membro do Partido Conservador, Antônio Joaquim Malheiros, que tinha a intenção de lançar um outro jornal.
Conforme mostram relatórios elaborados pelos presidentes do Mato Grosso, da época, em paralelo com o progresso econômico, havia também grandes agitações, disputas e aventuras na esfera comercial. Como resultado, é comum identificar vários editais de falência publicados na imprensa oficial do Estado. Era comum surgir ousados projetos não somente no campo comercial como também na impressa, resultando que alguns títulos não conseguiam atingir longa trajetória de publicação.
Antônio Joaquim da Rocha, diretor do referido jornal, foi agente da Companhia Nacional de Navegação, em Corumbá, nomeado por indicação da frente política que mantinha influência junto à Corte do Rio de Janeiro. Toda a região fronteiriça dependia do transporte fluvial, único meio de transporte para vencer o rigoroso sistema de longas distâncias e o isolamento do Mato Grosso daquela época. Entretanto, em função das alterações no quadro político, o diretor do jornal foi demitido do cargo de agente de navegação, em 1880, dois anos após a criação do jornal. Alguns anos depois, o empresário tem a patente de tenente coronel da Guarda Nacional.
Para finalizar, outro registro da circulação do mencionado jornal aparece na imprensa cuiabana, em maio de 1878, reproduzindo suas notícias relacionadas às dificuldades enfrentadas pelo coletor de rendas em São José de Herculânea (Coxim). Episódio inserido no quadro de disputas entre apoiadores das principais legendas políticas, linha editorial seguida por esse jornal que está entre os primeiros de Corumbá, no contexto da última década do regime monárquico.
Professor aposentado da UFMS: Luiz Carlos Pais