Lúdio Coelho: uma história de vida que se confunde com a de Campo Grande

Roberto Higa

Ex-prefeito de Campo Grande por dois mandatos e senador da República, Lúdio Martins Coelho tem uma história de vida que se confunde com a história da Capital. Apesar de ter nascido em Rio Brilhante em 1922, foi a “Cidade Morena” que “Seu Lúdio”, como era tratado pelas pessoas, escolheu para viver, construir família e onde faleceu em 22 de março de 2011.

Filho do casal de pecuaristas Laucídio de Souza Coelho e de Lúcia Martins Coelho, o “Homem do Chapéu”, que virou seu símbolo e slogan que adotou nas campanhas eleitorais que disputou, também foi empresário, dono do Banco Agrícola de Dourados, além de ter sido superintendente do Banco Financial.

Ele teve envolvimento desde cedo com o agronegócio e coube a Lúdio gerenciar o Condomínio LS, com mais de 100 anos e que levava o nome de seu pai, além de administrar a marca LC – por ele criada. O ex-prefeito também participou da instalação do primeiro frigorífico do Estado.

Seu Lúdio foi pioneiro nas atividades de reflorestamento e integração da agricultura com a pecuária. Ele também foi vice-presidente da ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu).

Porém, o que marcou seu nome na história campo-grandense foram as suas declarações e atitudes quase folclóricas. Seu Lúdio usava a linguagem popular, era direto e sincero e tinha adoração por contar histórias que ele mesmo inventava.

Manteve um mini zoológico por anos em sua casa no centro de Campo Grande, até os animais serem apreendidos pelo Ibama na década de 1990. Além disso, foi responsável pela criação do Bairro Aero Rancho, que antes era de sua propriedade. Sua vida também foi marcada pelo sequestro e assassinato de seu filho Lúdio Martins Coelho Filho, o “Ludinho”, com apenas 21 anos de idade em 1976, fato que ganhou repercussão em todo o Brasil.

A música “Lágrimas que choram”, gravada pela dupla sertaneja “Milionário & José Rico”, no mesmo ano, homenageia o falecido nos seguintes versos: “O Brasil todo sentiu, Mato Grosso entristeceu, Campo Grande está de luto pelo filho que perdeu”.

Carreira política

Ele construiu substituir ao longo da sua carreira política a imagem do fazendeiro e latifundiário pela figura de um homem bonachão, firme nas suas convicções, mas sensível às necessidades dos mais carentes, sem apelar para a demagogia e o populismo barato.

Na gestão pública, adotou a política de execução de investimentos apenas com a garantia de recursos em caixa, o que não significou a ausência de investimentos. Lúdio deflagrou ações como o asfaltamento de bairros como o Aero Rancho e as Moreninhas – duas das maiores regiões de Campo Grande.

Coube ao ex-prefeito, também, implementar o SIT (Sistema Integrado de Transportes), alicerçado em ônibus que circulavam entre terminais de transbordo e linhas expressas. Regularizou e urbanizou várias favelas, como a Comunidade Dona Neta e o “Corredor” do Bairro Nova Lima.

Na área da infraestrutura trouxe para Campo Grande a experiência da canalização em sistema de gabião no Córrego Prosa, iniciou o grande anel rodoviário, o prolongamento da Avenida Guaicurus e duplicação da Avenida Marechal Deodoro, saída para Sidrolândia.

Também disputou o Governo do Estado em duas ocasiões, sendo derrotado por Pedro Pedrossian e Marcelo Miranda. Três anos depois de deixar a Prefeitura da Capital foi eleito senador, período em que ocupou a vice-liderança do PSDB no Senado.

Ele também presidiu a legenda no Estado. Ao encerrar o mandato no Congresso Nacional, aos 80 anos de idade, Lúdio anunciou sua aposentadoria da vida pública, assumindo a presidência de honra do PSDB sul-mato-grossense.

Desde então, suas inserções no meio político foram raras, embora ainda fosse visto com frequência em eventos do setor rural. Desde 2009, quando foi internado por problemas de saúde, suas aparições se tornaram mais raras.

Ele veio a falecer no dia 22 de março de 2011 no Hospital Proncor, onde estava internado desde 17 de março, por conta de problemas cardíacos e de um quadro de diabetes – que se agravaram e causaram paralisia dos rins, pulmões e coração.

“Causos”

No entanto, contar um pouco da história do Seu Lúdio e não trazer alguns dos seus “causos” é impossível. Por isso, vamos citar apenas quatro dos muitos que ficaram na memória dos campo-grandenses.

Uma delas é sobre a entrevista, quando o jornalista perguntou ao prefeito Lúdio Coelho qual era a importância da ponte entre a Rua 14 de julho e a Avenida Fernando Corrêa da Costa. Ele respondeu, sem titubear: “meu filho, é importante porque vai passar água por baixo e carro e pedestre por cima”.

Outro “causo” famoso do prefeito é que na sua época tinham muitos bois, vacas e cavalos pelas ruas da periferia de Campo Grande e os moradores foram reclamar. A resposta de Seu Lúdio para eles foi curta e grossa: “deixa o gado pastar, pois, pelo menos eles tão comendo a grama e mantendo as ruas limpas”.

Seu Lúdio também deu uma sugestão prática para os moradores de Campo Grande que reclamavam dos terrenos baldios. “Podem plantar mandioca nesses terrenos que eu compro e levo para as creches, e para as instituições. Aí, se o dono do terreno aparecer e ver você plantando mandioca, fala para ele te pagar porque você capinou todo o terreno”.

Uma história que também ficou famosa foi quando a população começou a reclamar de pegar os ônibus lotados no período da manhã. Ele não pensou duas vezes ao sugerir que as pessoas deveriam parar de querer ir para o centro da cidade tudo no mesmo horário.

“Quando eu tenho de levar o meu gado para o frigorífico, eu não levo tudo de uma vez porque não vou dar conta. Por isso, o povo tem que ir um pouco de manhã e deixar para ir um pouco lá pelas 9 ou 10 horas para o centro da cidade. Essa é a solução”, sugeriu.

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