Ministra Tereza Cristina: exportações x fome

O preço da carne, continua subindo e pesando no bolso dos brasileiros. Em 12 meses a alta acumulada já chega a 35,68%, segundo dados do IPCA-15.
Agência Brasil

Nos primeiros dois anos de Governo Bolsonaro a Ministra da Agricultura, Tereza Cristina, flutuou em céu de brigadeiro. O Agronegócio se tornou a principal âncora da economia brasileira, o volume das exportações garantiu um PIB robusto e um superávit inédito da balança de pagamentos.

Nesse ambiente favorável, Tereza Cristina ganhou prestígio com o presidente da República e assegurou seu posto com a poderosa bancada ruralista. Seu desempenho vinha sendo tão elogiado que seu nome passou a ser cogitado para ser candidata vice do presidente na próxima eleição de 2022.

Mas nem sempre foi assim. Quando o jornal francês Le Monde, apelidou-a de “Madame Desmatamento” e, ainda, “Menina Veneno”, alcunha que recebeu quando ela se tornou uma defensora radical do projeto de Lei que regulamentou o processo de registro de agrotóxicos no Brasil.

Mas o tempo curou essas feridas. Sua postura discreta e moderada, avessa às polêmicas, mostrando um comportamento racional em meio a um governo que, muitas vezes considerado radical. Tereza vem passando batido, sempre citada na imprensa como uma pessoa diferenciada em meio a tanto ogro que habita o nosso agro.

Com isso, volta e meio seu nome circula nos meios políticos como importante ativo Bolsonarismo, apesar de que ela nunca tenha feito referências sobre seus verdadeiros posicionamentos ideológicos. Oriunda de uma família tradicional de Mato Grosso, os “Correia da Costa”, a imprensa nacional a coloca na estirpe da aristocracia brasileira, herdeira de uma linhagem que acredita que em suas veias corre o famoso “sangue azul”.

Mas a sorte de Tereza Cristina poderá mudar nestes tempos de carestia e fome que vem assolando o País. Os produtos provenientes do agro estão sofrendo altas estratosféricas, produzindo imagens grotescas como a de pessoas disputando pedaços de ossos em depósitos de supermercados e açougues. Da mesma forma que o Bolsonarismo nega os perigos da Covid-19, Tereza age como não existisse fome no País.

Os alimentos estão sofrendo um impacto que há décadas não é verificada no mercado. O pós-pandemia agora vem na forma de tragédia para milhares de famílias pobres e de classe média.

O custo da cesta básica registrou aumento em setembro na comparação com agosto em 11 das 17 capitais pesquisadas pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Segundo o levantamento divulgado nia seis (6) deste mês, as maiores altas foram em Brasília (3,88%) Campo Grande (3,53%), São Paulo (3,53%) e Belo Horizonte (3,49%).

O preço da carne, continua subindo e pesando no bolso dos brasileiros. Em 12 meses a alta acumulada já chega a 35,68%, segundo dados do IPCA-15.

Não para por aí: Índice de Preços de Alimentos, calculado pela FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), alcançou o nível mais alto em 10 anos, atingindo a média de 130 pontos em setembro.

O indicador representa uma alta de 32,8% em comparação ao mesmo período do ano passado. A FAO atribui a alta na inflação dos alimentos ao aumento nos preços da maior parte dos cereais e óleos vegetais. A categoria cereais registrou média de 132,5 pontos em setembro, aumento de 2% ante a agosto e de 27,3% em comparação ao mesmo período de 2020. Os preços internacionais do trigo foram os que mais aumentaram, numa média de 4% ao mês.

Enfim, os dados indicam que os preços dos alimentos estão incompatíveis com a renda dos brasileiros. A imprensa está denunciando surtos coletivos de fome, aumento da miséria e da população em situação de rua. Um quadro trágico que há muito não se vê no Brasil.

Mesmo assim, contudo, a Ministra Tereza Cristina não parece se sensibilizar. Ela reconhece a carestia e o sofrimento dos mais pobres, mas vem dizendo que sua prioridade não é baixar preços e sim garantir o abastecimento. Tereza acredita que com o tempo haverá um acomodamento do mercado.

De acordo com sua visão, a culpa é do cenário mundial, que está tentando reorganizar a economia após a pandemia. Por isso, tem pedido “paciência” para a população, num gesto que mais parece uma mistura de inação com incompreensão com a realidade atual.

Só que o discurso de que prefere manter o abastecimento do que estudar e planejar políticas focalizadas de controle de preço, foi na última quarta-feira derrubado pelo próprio Presidente Bolsonaro, quando afirmou que com a queda da produção de insumos agrícolas da China, em decorrência de problemas energéticos do País, o Brasil enfrentará uma crise nessa área.

Ou seja: além de caros, os produtos vão faltar nas prateleiras.

Diante disso, qual será o argumento de Tereza Cristina? A fama de Ministra competente está derretendo. O apoio que recebe do setor do agronegócio poderá ficar abalado porque ninguém suporta uma Ministra impopular que está fazendo a sociedade enfrentar dificuldades para sobreviver. Sem falar na volta da doença da “Vaca Louca”.

O mais grave é que a Ministra não se mexe, não formula ideias, não apresenta um planejamento, não forma um gabinete de crise, enfim, está de braços cruzados, esperando passar o tempo para sair do Governo e fazer campanha. Só tem um detalhe; o eleitor não vota com a barriga vazia. 

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