Paraguaios vão às ruas em quarto dia de protestos contra presidente e oposição decide avançar com impeachment

Marcha feminista se junta a manifestantes que querem renúncia de Abdo Benítez, enquanto deputados liberais vão atrás de apoio para tirá-lo do poder
CESAR OLMEDO / REUTERS

ASSUNÇÃO – Uma nova manifestação aconteceu nesta segunda-feira no Paraguai, sacudido desde sexta-feira por protestos exigindo a renúncia do presidente Mario Abdo Benítez, a quem os manifestantes acusam de mau desempenho na gestão da crise sanitária ligada à Covid-19 e de corrupção.

Em meio à crescente pressão, os quatro partidos da bancada liberal paraguaia decidiram levar adiante um julgamento político do presidente — dispositivo análogo ao do impeachment, cujo trâmite ocorre de modo rápido.

A decisão de exigir a saída de Abdo do poder já havia sido cogitada desde o primeiro dia pela frente liberal, de centro-direita, e agora decidiram de fato seguir em frente.

Três parlamentares devem preparar a calúnia acusatória contra o presidente e seu vice, Hugo Velázquez.

— Neste momento temos que fazer o que o povo pede, e há dias é por isso que clama — disse a deputada Celeste Amarilla, uma das indicadas para preparar a denúncia.

Segundo o deputado Celso Kennedy, um dos coautores, a denúncia deve ser apresentada na semana que vem.

Para o pedido obter sucesso, será fundamental aos liberais obterem apoio do setor Honra Colorada (Honor Colorado), facção do próprio Partido Colorado de Benítez liderada por seu rival Horacio Cartes.

Na última grande crise paraguaia, envolvendo o contrato de energia de Itaipu em 2019, o apoio do grupo impediu o impedimento do presidente.

Para que o processo avance, são necessários dois terços da Câmara dos Deputados — 53, caso estejam presentes os 80 parlamentares. Segundo o deputado liberal Édgar Acosta, a princípio 29 liberais concordaram com o pedido. Eles calculam ainda o apoio de alguns membros do Pátria Querida e do Façamos, que elevaria a soma a 37. E disse que, com o Honra Colorada, alcançará o quórum:

— O que acontece é que trata-se de um movimento extremamente vertical, não irão se separar — disse Acosta, do Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA), maior sigla da bancada.

Embora o presidente tente abafar os protestos nomeando novos ministros e prometendo mudar de curso, a pressão permanece alta. Nesta segunda-feira, as manifestações coincidiram com a marcha tradicional para o Dia Internacional da Mulher.

A manifestação feminista reuniu em Assunção mil pessoas na Plaza de la Democracia. Com o slogan “Vivas, diversificadas e com direitos”, as mulheres também se juntaram a quem exigia a renúncia do presidente.

— [Abdo] Precisa renunciar, a corrupção é muito grande — disse Carola Recalde, bióloga que veio à praça com uma bandeira do Paraguai.

A chegada de apenas 4 mil doses de vacinas Sputnik V destinadas ao pessoal de terapia intensiva em hospitais gerou descontentamento que mira o governo.

O presidente chileno, Sebastián Piñera, ajudou Abdo enviando imediatamente 20 mil doses de vacinas de Coronavac, na China, para profissionais de saúde, no sábado passado.

Por sua vez, o presidente do Senado paraguaio, Oscar Salomón, anunciou nesta segunda-feira que em poucos dias chegarão mais 36 mil doses da vacina contra a Covid-19.

O Paraguai, com pouco mais de 7 milhões de habitantes, espera, sem datas precisas, a importação de 4 milhões de vacinas pelo sistema Covax estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), além de um milhão de doses da Sputnik V.

Até agora, a pandemia deixou um saldo de mais de 168 mil infecções e 3.318 mortes no país de 7,1 milhão de habitantes.

Facebook
Twitter
WhatsApp

Leia Também