O Gerente de Ensino e Pesquisa do hospital, que é psiquiatra, foi o entrevistado da vez e falou sobre o assunto
Dourados (MS) – Uma epidemia silenciosa. Assim pode ser definido o aumento no número de casos de suicídios no Brasil e em outros países de média e baixa renda. O mais recente Boletim Epidemiológico elaborado pela Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, do Ministério da Saúde, revela crescimento de 42% de casos entre 2010 e 2021 no país, dados que incluem crianças e adolescentes. Especialistas do HU-UFGD e da Rede Ebserh reforçam a importância da informação, da escuta, da empatia e do tratamento para ajudar as pessoas em sofrimento psíquico. Afinal, o suicídio pode ser prevenido. Esse é o foco da campanha Setembro Amarelo, que tem como lema este ano: “Se precisar, peça ajuda!”.
Pensando justamente em elucidar mais sobre o assunto, o Pod Cast “Ensina Aí” do HU-UFGD preparou um episódio especial sobre o tema em que o entrevistado foi o Gerente de Ensino e Pesquisa, Dr Thiago Pauluzi Justino, que é psiquiatra, abordou diversos tópicos importantes sobre o tema, como:
- Por que Setembro Amarelo?
- O que é suicídio?
- Como estão os números de suicídio hoje?
- Todas as pessoas estão suscetíveis do mesmo modo ou existem grupos mais vulneráveis?
- Quais são os sinais de alerta?
- No caso da depressão, o tratamento é longo? Como funciona?
- Em lugares frios ocorrem mais suicídios: mito ou verdade?
- Tem prevenção? Que hábitos saudáveis a pessoa pode adotar para cuidar da saúde mental?
A entrevista conduzida pelo jornalista da UCR-25, Ronie Cruz, iniciou com a explicação de uma arte no fundo do programa, que continha a foto de um carro Mustang amarelo e a frase: “ Setembro Amarelo – você não está sozinho!”
Atenção às crianças e jovens
O comportamento das crianças e jovens merece muita atenção de quem está no entorno. Para se ter uma ideia, em 2021, o suicídio representou a 27ª causa de morte no Brasil, na população geral. Mas, entre a população adolescente e adulta jovem, esse dado fica ainda mais grave: nas faixas etárias de 15 a 19 anos e de 20 a 29 anos, o suicídio ocupou a terceira e a quarta maior causa de mortalidade, nessa ordem. Entre crianças e adolescentes de 5 a 14 anos, representou a 11ª causa.
“A taxa de suicídio entre jovens cresceu 6% por ano no Brasil entre 2011 e 2022, e as taxas de notificações por autolesões na faixa etária de 10 a 24 anos de idade evoluíram 29% ao ano no mesmo período, segundo dados de um estudo de março de 2024 publicado na revista The Lancet Regional Health – Americas”.
O uso das redes sociais também tem um papel importante nesse processo, em especial para a geração Z, os nascidos entre 1995 e 2012. No “O psicólogo social Jonathan Haidt, no livro ‘A Geração Ansiosa’, argumenta que o uso excessivo de redes sociais, como Instagram e TikTok, está associado a um aumento nos índices de ansiedade, depressão e problemas de autoimagem, principalmente entre as meninas, condições que podem levar ao suicídio.
Os transtornos de humor (como depressão e o afetivo bipolar) estão associados ao comportamento suicida em 35,8% dos casos, enquanto o transtorno por uso de substâncias psicoativas (dependência de álcool, de crack e outras drogas) em 22,4% dos casos; e o quadro de esquizofrenia em 10,6%.
Tratamento
Todos esses transtornos têm tratamento, logo, é possível sim ajudar as pessoas em sofrimento e prevenir o suicídio, a partir de uma maior conscientização, intervenção precoce e estratégias de prevenção eficazes.
De acordo com os dados da cartilha “Informando para prevenir”, publicada pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e Conselho Federal de Medicina (CFM), 96,8% dos casos de suicídio registrados estão associados a histórico de doenças mentais, que podem ser tratadas.
No SUS, existe a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), constituída por um conjunto integrado e articulado de diferentes pontos de atenção para atender pessoas em sofrimento psíquico e com necessidades decorrentes do uso prejudicial de álcool e outras drogas, com estabelecimento de ações para garantir a integralidade do cuidado.
Os atendimentos em saúde mental são realizados na Atenção Primária à Saúde (APS) e nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), onde o usuário recebe assistência multiprofissional e cuidado terapêutico conforme a situação de cada pessoa. Em algumas modalidades desses serviços também há possibilidade de acolhimento noturno e/ou cuidado contínuo em situações de maior complexidade, muitas vezes, em leito de saúde mental em hospital geral (como em diversos da Rede Ebserh). O CAPASi (Centro de Atenção Psicossocial Infantil), as unidades de saúde da família e iniciativas como o Centro de Valorização da Vida (CVV) pelo telefone 188; o Mapa de saúde mental, que traz uma lista de locais de atendimento voluntário gratuito e o canal lançado pela Unicef, Pode Falar.
Ambiente laboral merece atenção de gestores e de colegas
Se o comportamento de crianças e jovens pode acender o sinal de alerta nas pessoas do entorno, o mesmo cuidado vale para o olhar com os colegas de trabalho – com quem compartilhamos tantas horas diárias. Um ambiente laboral ruim ou nocivo pode gerar adoecimento emocional, ou potencializar uma vulnerabilidade já existente.
É imprescindível falar sobre suicídio no ambiente de trabalho. Esse tema pode e deve ser abordado de forma clara e transparente, apresentando às pessoas a importância do autocuidado, do olhar para si e para o outro. Ao falar sobre isso, precisamos também ratificar a importância de dialogarmos abertamente sobre a saúde mental e emocional para quebrar o estigma que o assunto carrega. Alguns sinais podem sugerir o sofrimento psíquico de um indivíduo, como alterações no sono e a dificuldade em se desligar totalmente, o desinteresse em interagir com outras pessoas e mudanças bruscas e significativas no humor.
É importante que estejamos atentos às pessoas e ao perceber alguns desses sintomas, ter a disponibilidade para conversar e demonstrar apoio. Na sequência, é possível direcionar para o tratamento com profissionais especializados e para canais como o Centro de Valorização da Vida (CVV), pelo telefone 188. Caso a pessoa verbalize uma ideação suicida, acompanhe-a nas primeiras 24-48 horas após a crise.
Sobre a Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por Moisés de Holanda, com colaboração de Yara Ferro e revisão de Danielle Campos
Coordenadoria de Comunicação Social/Ebserh
Tags: ebserh, hu-ufgd setembro amarelo, prevenção, suicídio, tratamento, empatia, cuidado, atenção