Tudo que você precisa saber sobre a Butanvac, a vacina brasileira

Tire suas dúvidas e entenda as características do candidato a imunizante contra a Covid-19 totalmente desenvolvido pelo Instituto Butantan, de São Paulo

O governo do estado de São Paulo, em parceria com o Instituto Butantan, detalhou na manhã desta sexta-feira (26) as especificidades da Butanvac, primeira candidata a vacina desenvolvida integralmente em território nacional.

Limitações práticas devem dificultar a aplicação do imunizante, como apontam especialistas. O governador João Doria prometeu entregar 40 milhões de doses da vacina a partir de julho. No entanto, para que isso aconteça, ela precisa passar pelo crivo da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) nos testes clínicos — ainda não iniciados — e ter o uso emergencial, ou definitivo, aprovado neste período.

Para além dos prazos, a Butanvac é desenvolvida para também combater a variante P.1 do coronavírus surgida em Manaus e possui tecnologia similar à utilizada na produção da vacina contra a gripe. Estas e outras especifidades tornam a vacina do Butantan muito diferente dos demais imunizantes disponíveis no mercado.

Confira abaixo as principais informações que você precisa saber sobre a Butanvac:

A Butanvac é eficaz contra as variantes do coronavírus?
O Instituto Butantan não detalhou se a vacina combate todas as variantes do coronavírus existentes, mas ela foi desenvolvida para ser eficaz contra a variante P.1, identificada em Manaus, no Amazonas.

“Nós já estamos trabalhando na versão P1 dessa vacina. Quando ela entrar em produção será eficaz contra a variante”, afirmou o diretor do instituto, Dimas Covas.

Será aplicada em uma ou duas doses?
O Instituto Butantan não confirmou quantas doses da vacina serão necessárias para imunizar a população. De acordo com Dimas Covas, presidente do instituto, a nova vacina tem potencial de imunização superior a de outros imunizantes e poderá proteger a população com apenas uma dose. “É uma possibilidade. O fato de você ter uma melhor resposta imunológica permite utilizar apenas uma dose”.

Prazo x burocracia: quanto tempo leva para a vacina começar a ser aplicada?

Em entrevista, o pesquisador e infectologista Júlio Croda, da Fiocruz, disse que o prazo anunciado pelo governador João Doria de início, em julho, da aplicação de 40 milhões de doses dificilmente será cumprido.

“Não é tão rápido que isso acontece. Apesar da capacidade de produção existir pelo Instituto Butantan, por usar tecnologia similar à vacina da gripe, a gente precisa de tempo desses estudos de fase 3 para evidenciar a eficácia da vacina, assim como foi feito com a Coronavac”, afirmou.

O pesquisador lembrou que os testes clínicos da fase 3 de outras vacinas disponíveis atualmente no Brasil e em outros países levaram pelo menos seis meses para serem concluídos. De acordo com o governo paulista, o pedido de desenvolvimento de estudo clínico será enviado nesta sexta-feira (26) à Anvisa. Caso a agência aceite o protocolo, a vacina ainda precisa passar pelos testes e conseguir a aprovação para uso na população.

Quais são as etapas pelas quais a vacina ainda precisa passar?

A vacina anunciada pelo Instituto Butantan já passou pelos testes pré-clínicos, que são realizados em animais e em laboratório, mas ainda precisa ser submetida às fases 1, 2 e 3 dos estudos clínicos. A fase 3 é a mais complexa e demorada, pois envolve a aplicação em um grupo maior de pessoas.

“Se é uma nova vacina, tem que obedecer todo o rito, fazer estudos de fase 1 e 2, que são mais rápidos. Em dois meses dá para fazê-los. Mas os ensaios de fase 3, utilizando uma população maior, de diferentes estados, demora um tempo”, explicou Croda.

O que muda com o fato de a Butanvac ser produzida no Brasil e com a mesma tecnologia da vacina da gripe?
A Butanvac usa o vetor viral da proteína Spike do coronavírus, que foi modificado geneticamente. Apesar da diferença em relação ao vírus da gripe, a produção será feita com os mesmos métodos utilizados pelo Butantan na vacina contra a influenza.

A principal mudança que este sistema de produção traz é a sua simplicidade em relação aos demais métodos utilizados no desenvolvimento de vacinas contra a Covid-19, em geral mais tecnológicos e com necessidades especiais de armazenamento. Segundo o correspondente, neurocirurgião Fernando Gomes, o grande ganho do Brasil com a Butanvac é a ampliação da produção.

“As outras vacinas [usadas no Brasil] têm uma dependência de insumos que vêm do exterior. Isso faz com que tenhamos produção limitada por algo que não conseguimos ter controle. A partir do momento que temos isso dentro do território nacional, as coisas ficam muito mais fáceis em termos de conseguir escalonar de forma maior a produção da vacina e sua distribuição”, disse.

Outro fator que muda com a Butanvac é o baixo custo de produção, já que os insumos não precisarão ser importados de outros países e o próprio método torna o processo mais barato.

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