Análise: Brasil, país do “me engana que eu te engano”

Novas tendências mundiais passam pelo “jeitinho brasileiro” assim que chegam por aqui e nada muda

Quando o assunto é produtividade no trabalho, o Brasil aparece sempre nas últimas posições das pesquisas globais. O professor Sérgio Sakurai, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP/USP), afirma que a produtividade média no Brasil é tão baixa que, enquanto um trabalhador brasileiro leva uma hora para fazer um produto ou serviço, um norte-americano faz a mesma coisa em 15 minutos. Ou seja, um brasileiro é quatro vezes menos produtivo do que um americano.

Sempre que se aborda o assunto, algumas justificativas começam a aparecer, como a que nos Estados Unidos as condições de trabalho, os salários e a tecnologia são melhores e que, supostamente, daí viria a alta produtividade. Porém, não é o que pesquisas nacionais indicam.

Um estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, aponta que a produtividade do brasileiro é a mesma de 30 anos atrás, não importando todos os avanços tecnológicos que tivemos e nem os direitos trabalhistas que a CLT impõe, coisa que nos Estados Unidos não existe. O direito que a grande maioria dos americanos tem é o de receber pelas horas trabalhadas. Ponto. Não há férias remuneradas, 13º salário, fundo de garantia ou aviso prévio. E mesmo nas empresas onde é possível pedir folga não remunerada, a maioria não faz uso por medo de ser demitido.

Além disso, a concorrência por lá é tanta que um funcionário desqualificado ou desatualizado raramente conseguirá manter seu emprego. Sendo assim, as facilidades que muitos pensam existir na América, na verdade, não existem. Quem não produz no ritmo americano fica fora do mercado e não há lei que obrigue as empresas a manter em seu quadro funcionários improdutivos, nem que as faça premiar os demitidos com indenizações e multas. Alta produtividade, melhores salários e preços de produtos e serviços mais baixos. A equação americana está fundamentada em matemática simples.

Ultimamente tem sido aventada a possibilidade de implantar no Brasil a semana de quatro dias de trabalho, que ao que tudo indica, é tendência em várias partes do mundo. Mas além de esbarrar na rigidez da CLT, a semana de quatro dias encontra vários entraves por aqui e a baixa produtividade é um deles.

Para a CLT, se uma empresa implantar a jornada de quatro dias de trabalho por semana em um setor, terá de estender para todas as demais áreas, inclusive a administrativa. Se uma fábrica, por exemplo, trabalha sete dias por semana, mas seus funcionários apenas quatro, terão de ser contratados mais funcionários para cobrir os dias não trabalhados. Obviamente os salários serão mais baixos enquanto o custo da produção subirá, fazendo com que os consumidores – ou seja, todos nós – tenhamos de pagar mais caro por todo tipo de produto ou serviço.

Por outro lado, os governantes (sempre tão atentos para surfar na onda do populismo) comemorarão o aumento dos empregos, mas sem jamais mencionar que os salários caíram e os preços de tudo, incluindo a arrecadação de impostos, subiram. É o velho “me engana que eu te engano” que faz com que quase todas as boas ideias virem piada por aqui. Enquanto a meritocracia for tratada como uma injustiça estaremos fadados ao nivelamento por baixo que, há décadas, nos mantém presos à pobreza mesmo vivendo em um dos países mais ricos do mundo.

Autora

Patricia Lages é autora de 5 best-sellers sobre finanças pessoais e empreendedorismo e do blog http://bolsablindada.com.br/. É palestrante internacional e comentarista do JR Dinheiro, no Jornal da Record TV.

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